Imagem Em audiência pública, comunidade surda reivindica políticas públicas de inclusão e visibilidade

Em audiência pública, comunidade surda reivindica políticas públicas de inclusão e visibilidade

Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaNotíciaAdinilson Pereira

26/09/2025 21:45:00


Na noite desta sexta-feira (26), a Câmara Municipal de Vitória da Conquista promoveu uma audiência pública em comemoração ao Dia Nacional do Surdo. O encontro reuniu autoridades, representantes da comunidade surda, professores, intérpretes e instituições parceiras para debater políticas públicas de inclusão e dar visibilidade às lutas e conquistas desta comunidade.

O vereador Adinilson Pereira (UB), propositor da audiência, destacou a alegria em celebrar a data e a importância de discutir medidas que assegurem os direitos das pessoas surdas. “É uma alegria ter nesta noite pessoas representando a comunidade surda da cidade e das regiões vizinhas. Foi uma noite especial, cercada de pessoas interessadas em caminhar lado a lado, desejando trabalhar pela comunidade surda”.

A presidente da Associação de Surdos de Vitória da Conquista (ASVIC), Rita de Cássia Ribeiro, ressaltou que a data simboliza visibilidade e empoderamento, mas alertou para os desafios. “Vivemos lutando por acessibilidade. Ainda há muitos obstáculos pela falta de intérpretes e de acessibilidade linguística. A Libras não pode ser desvalorizada, é a língua natural da comunidade surda. Precisamos de formação para intérpretes nos serviços públicos, campanhas de conscientização e, sobretudo, empatia. É necessário eliminar barreiras para garantir saúde e atendimento igualitário”.

O professor da UESB, Leandro Vitorino dos Santos, lembrou que o Dia Nacional do Surdo reforça a luta por direitos iguais. “A Constituição diz que todos devem ser tratados de forma igualitária. Conquistamos a presença de intérpretes no Festival da Invenção e Criatividade (FIB) e no São João, mas precisamos avançar para que todos os eventos culturais, artísticos e religiosos contem com acessibilidade”.

Eva Alzira destacou que o dia é de celebração e reconhecimento da comunidade surda, ressaltando o Setembro Azul como período de valorização e respeito, mas lembrando que a luta deve permanecer todos os dias.

“A Libras dá voz e vez a milhões e precisa ser cada vez mais valorizada na sociedade. A diversidade linguística é uma bandeira de luta diária, e precisamos de mais políticas públicas que garantam direitos. O azul é símbolo de coragem e identidade da cultura surda. Não posso ouvir, mas posso ver o mundo através das mãos falantes — e isso é maravilhoso”, disse.

A pedagoga e intérprete há 28 anos, Carmen Teixeira, mobilizadora da comunidade surda em Itambé, destacou a escassez de intérpretes no município, onde atualmente só ela atua, mas informou que quatro novos intérpretes estão em formação. Ela questionou a lembrança da comunidade surda apenas no mês de setembro.

“O surdo precisa de acessibilidade todos os dias, no médico, na escola, nos eventos. É constrangedor ter alunos sem intérprete e só se lembrar deles em setembro. Surdo também vota, estuda, trabalha. A inclusão ainda não é real, somos uma contagota lutando por eles. Precisamos nos unir para buscar as transformações que queremos e precisamos”.

A professora da rede estadual, Edvanda Trindade Damasceno, lembrou que iniciou seu trabalho com a comunidade surda em 2007, durante a transição da escola normal para a inclusiva, chegando a lecionar debaixo de uma árvore e acompanhando o crescimento dos alunos. Ela destacou a importância do acesso à arte e à cultura, bem como da criação do Centro de Educação, Apoio e Referência Professora Maria Antonieta, espaço da comunidade surda para alfabetização e convivência.

“A existência é um presente. Mesmo diante das dificuldades, temos muito a comemorar. A luta resistente e resiliente dos surdos garante lugar de fala, de ação e o direito de ter intérprete e de viver em uma sociedade que assegure direitos para todos”.

A gerente da Central de Intérpretes de Libras, Jaqueline França, ressaltou a alegria em comemorar o Dia do Surdo e destacou a importância da valorização da Libras como direito linguístico, patrimônio cultural e identitário da comunidade surda. Ela lembrou que, na semana seguinte, seria celebrado o Dia Nacional do Intérprete de Libras, reforçando a necessidade de reflexão e conscientização.

“A Libras não é um adorno nem entretenimento, mas a língua natural da comunidade surda. O intérprete tem papel fundamental, devendo atuar com ética e responsabilidade. É inadmissível que a categoria seja desvalorizada, como ainda ocorre em várias cidades, inclusive em Vitória da Conquista. Defender a Libras é defender a visibilidade, a cultura e a identidade surda. Não podemos permitir que ela seja banalizada. É preciso garantir condições dignas de trabalho aos intérpretes e respeito aos direitos da comunidade surda”.

A professora de Libras da UFBA, Vivian Caroline de Freitas Magalhães, recém-chegada a Vitória da Conquista, destacou sua trajetória acadêmica e profissional, com mais de 15 anos de experiência, formação em Educação Física, Letras-Libras, mestrado e especialização, sempre voltada para a educação de surdos. Ela ressaltou que muitas crianças surdas chegam à escola sem conhecer a Libras devido às barreiras de comunicação dentro das famílias, o que gera violência linguística e exclusão quando os professores não dominam a língua de sinais.

Vivian defendeu mudanças políticas e estruturais na educação, enfatizando o cumprimento da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que garante direitos linguísticos e de acessibilidade às pessoas surdas. “A educação básica é um direito constitucional. Precisamos de cursos de formação para professores e intérpretes, mas também de garantir a participação de surdos nesses processos. A comunidade surda precisa estar representada e reconhecida em todos os espaços da educação, saúde e cultura”.

Rute Helen Santana Veloso, estudante de Letras-Libras no Polo da Uniasselvi, destacou a importância da formação de intérpretes fluentes para concursos públicos e para a educação bilíngue de crianças surdas, evitando que alunos surdos fiquem em desvantagem frente aos ouvintes.

Ela ressaltou que a primeira língua do surdo é a Libras, e que é essencial garantir espelhamento linguístico nas escolas inclusivas, com professores e estagiários capacitados, proporcionando aprendizagem plena e desenvolvimento da identidade e cultura surda.

“É fundamental oferecer provas e aulas inclusivas com intérpretes qualificados, para que a educação infantil surda possa acontecer de forma visual e efetiva, respeitando a língua natural do aluno e promovendo a participação plena nas atividades escolares”, afirmou.

Professor Jura Teixeira, treinador de futsal para surdos, saudou a mesa, os surdos presentes e a caravana de Itambé, destacando seu sentimento de pertencimento à comunidade surda. Ressaltou a importância de educação, saúde, lazer e cultura para os surdos, e do apoio de intérpretes e tradutores nos eventos e atividades. Ele explicou que o futebol contribui para educação e saúde, melhorando corpo, mente e psicomotricidade, além de promover inclusão e autoestima.

Jura destacou o trabalho de motivação e acompanhamento junto ao time de surdos, enfatizando valores éticos, morais e cidadania, e compartilhou a conquista do time como vice-campeão em Salvador, reforçando a importância do trabalho em equipe e da perseverança. “Enquanto a vida estiver, vou estar ajudando e somando com todos, especialmente com o time de surdos, para promover inclusão, autoestima e desenvolvimento integral dos atletas”.



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