Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaNotíciaSubtenente Muniz
06/05/2025 21:53:00
Nesta terça-feira (6), a Câmara Municipal promoveu uma Audiência Pública voltada à Mobilização Nacional pela Saúde Mental Materna. A iniciativa foi proposta pelo vereador Subtenente Muniz (PDT) e contou com a participação de profissionais da saúde, mães, representantes de instituições e membros da sociedade civil.
O parlamentar aproveitou a oportunidade para destacar que é de uma família de mulheres parteiras, ele mesmo tendo nascido graças aos trabalhos de uma tia parteira, realçando os trabalhos sociais desenvolvidos por sua mãe, Arlinda Brito do Prado, e sua avó Virgínia Rosa Brito. “Mulheres guerreiras que já partiram, mas deixaram legado”.
A psicóloga clínica e social Naiara Alves destacou que o debate vai além do atendimento psicológico individual, enfatizando a importância do engajamento de profissionais de saúde, gestores públicos e da comunidade. Segundo ela, o foco principal da mobilização será as áreas perinatal, pré-natal e pós-parto.
Naiara ressaltou que uma única audiência não é suficiente para abordar todas as questões relacionadas à saúde mental materna. Ela reforçou a necessidade de que as discussões tenham impacto efetivo nas maternidades, para que as informações possam ser disseminadas amplamente.
A especialista também abordou as mudanças físicas e emocionais enfrentadas pelas mulheres durante a gestação e o período pós-parto. Ela destacou ainda que as mulheres frequentemente passam por alterações na autoimagem, o que pode afetar sua autoestima e bem-estar psicológico. Segundo Naiara Alves, essas transformações vêm acompanhadas de medo, ansiedade e preocupações constantes. Ela alertou para a importância de estar atento aos sinais de sofrimento emocional.
A professora Monalisa Barros reforçou a necessidade de transformar em prática as leis aprovadas na Câmara Municipal relacionadas à saúde materna. Entre elas, a regulamentação da presença de doulas nas maternidades. Destacou ainda o papel fundamental de instituições como a enfermaria Maria Flor e o Ambulatório Além da Dor, que oferecem suporte especializado às mulheres que enfrentam perdas gestacionais.
“Esses espaços criam um ambiente separado das demais gestantes para evitar sofrimento adicional e promover a saúde mental das mães que convivem com diagnósticos difíceis, como a perda do bebê”, explicou. Ela ressaltou que essas ações representam conquistas importantes, mas que é preciso garantir sua efetiva implementação.
Com 40 anos de experiência na área, Monalisa enfatizou a responsabilidade coletiva dos profissionais envolvidos no parto. Ela destacou o protagonismo da enfermeira obstétrica, única profissão no país com previsão legal de manejo no parto, mas reforçou que todos devem atuar em prol do bem-estar emocional das mulheres.
A enfermeira obstétrica Jeane Keila afirmou que, apesar dos avanços na área, ainda há um grande tabu em falar sobre saúde materna. Segundo ela, durante a formação universitária, os estudantes não são adequadamente preparados para lidar com a saúde mental das gestantes, recebendo apenas capacitação voltada ao desenvolvimento físico da mulher e do bebê. A profissional destacou que essa habilidade será aprimorada com a prática diária.
Jeane ressaltou que a gestação é um momento delicado na vida da mulher, marcado por diversas mudanças físicas e emocionais, e que é fundamental compreender como ela se sente após a descoberta da gravidez. “Esse período traz insegurança e medo”, observou.
Como sugestão para o município, ela propôs a implementação do Plano de Parto nas unidades de saúde como uma política pública. O documento, criado em 1996 pela Organização Mundial da Saúde, permite que a gestante expresse antecipadamente suas preferências para o parto. Para Jeane, essa ferramenta promove a autonomia da mulher, compartilhando responsabilidades e garantindo que ela tenha voz ativa durante todo o processo.
A enfermeira Gabriela Schettini, da Unidade de Saúde Régis Pacheco, pediu maior empatia no cuidado às gestantes. Ela ressaltou que a gestação é um momento de expectativa e alegria tanto para as mulheres quanto para suas famílias. “O pré-natal deve ser iniciado assim que a gravidez é descoberta e deve ser conduzido com muita empatia, para que a mulher se sinta acolhida e respeitada”, afirmou.
Gabriela também defendeu a realização do parto humanizado, com a presença do acompanhante escolhido pela gestante, permitindo que ela participe ativamente e decida como deseja vivenciar esse momento, que deve ser lembrado com alegria.
Ela destacou ainda que o período mais delicado é o pós-parto, conhecido como puerpério, quando muitas mulheres podem apresentar sinais de depressão, sentindo tristeza profunda e angústia. “Nessa fase, a mulher pode não querer ver ou cuidar do bebê. Muitas vezes, toda atenção se volta ao recém-nascido, esquecendo-se das necessidades emocionais da mãe”, alertou. Em sua fala, Gabriela reforçou a importância de um cuidado humanizado e atento às emoções das gestantes e mães, promovendo uma experiência mais positiva e saudável para todas as mulheres nesse momento tão especial.
A conselheira tutelar Mikely Xavier ressaltou a importância de tratar a saúde mental, especialmente durante o período gestacional, quando a mulher enfrenta um fardo de inúmeras dores físicas e emocionais. Ela defendeu a criação de políticas públicas eficazes de acolhimento e proteção às mulheres nesse momento delicado. “Em nome das mães, enquanto conselheira, faço um apelo por mais atenção e pela implementação de políticas públicas que atendam às necessidades da mulher”, afirmou Mikely.
Ceres Almeida, diretora da Fundação de Saúde Esaú Matos, afirmou que os problemas de saúde mental se agravaram significativamente após a pandemia, exigindo maior atenção. Segundo ela, é comum acompanhar, diariamente, o sofrimento de mulheres que chegam em busca de atendimento carregando muitas dúvidas e medos. “O índice de cesarianas está diretamente relacionado ao medo da dor durante o parto. Esse aspecto ainda é pouco compreendido pela maioria das mulheres. O tema precisa ser mais debatido e amplamente divulgado”, destacou.
Ceres ressaltou que, embora algumas mulheres tenham maior conhecimento sobre o assunto, muitas ainda sentem receio de enfrentar o processo do parto. Ela também destacou a importância do plano de parto, mas observou que sua implementação exige um processo estruturado, que deve ser desenvolvido dentro das unidades de saúde e pelos profissionais responsáveis. “Isso envolve tanto a preparação dos profissionais quanto a adequação da estrutura da unidade, que muitas vezes não está preparada para atender às expectativas da gestante”, concluiu.
Vereadora Márcia Viviane destaca importância do Maio Furta-Cor e da saúde mental materna
Durante audiência pública sobre saúde materna, a vereadora Márcia Viviane (PT) destacou a relevância do debate e defendeu a importância da lei de sua autoria que institucionalizou o Maio Furta-Cor no município — campanha que visa conscientizar sobre a importância da saúde mental materna em todas as fases: gestação, parto e pós-parto. Para a parlamentar, o encontro representa um marco fundamental para que o tema seja efetivamente incorporado às políticas públicas locais.
“Temos dados que mostram que muitas mulheres enfrentam problemas mentais durante a gestação, no parto e no período pós-parto. Isso precisa deixar de ser um tabu”, afirmou Márcia. Segundo ela, o parto tem sido historicamente romantizado, enquanto o cuidado com a saúde mental das mães era colocado em segundo plano. “Antes invisibilizado pelo poder público, o tema agora começa a ocupar espaços. A saúde mental materna importa em todas as fases, e é essencial que profissionais e familiares estejam atentos a essa realidade”, concluiu.