O Fórum de Mulheres de Vitória da Conquista realizou na manha desta terça-feira, 30, o 1º Simpósio O SUS e a Saúde das Mulheres: situação e prevenção à mortalidade e mortandade materno infantil no Sudoeste baiano”. A atividade aconteceu no auditório da OAB, subseção Vitória da Conquista, e reuniu sociedade civil organizada, secretários municipais de saúde e representantes da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), Núcleo Regional de Saúde do Sudoeste, Universidade Federal da Bahia e da Câmara Municipal de Vereadores, que foi representada pela vereadora Viviane Sampaio (PT). 

A vereadora ressaltou que o simpósio foi muito positivo, além de ter contado com bastante representatividade. Ela destacou que a participação da Sesab foi fundamental, porque deve instaurar uma série de encaminhamentos, como o aumento das câmaras técnicas de mortalidade materno-infantil nos municípios que pertencem ao Sudoeste e fortalecer as estruturas de saúde como postos e hospitais, garantindo ampliação e qualidade no atendimento a mulheres. 

Reconstrução de políticas de saúde – Dra. Liliane Mascarenhas Silveira, diretora de Gestão e Cuidado da Sesab, ponderou que muitas políticas públicas de saúde foram desmontadas nos anos anteriores, com impactos negativos nas unidades de saúde, onde as mulheres buscam atendimento.

Ela ressaltou que é necessário ampliar a escuta dessas mulheres, observando também aquilo que não é falado, mas se manifesta nas pacientes e são complicadores da saúde. Além disso, Liliane frisou que a situação de cada uma dessas mulheres precisa ser levada em conta – desde a dona de casa a mulheres em situação de rua ou em custódia. 

Para a gestora, um dos grandes desafios é garantir o atendimento primário de saúde e fortalecer as equipes multidisciplinares nas unidades de saúde dos municípios. A fala de Liliane foi amparada ainda com a apresentação de dados pelas servidoras Dorotéia Reis e Olga Sampaio. 

As profissionais destacaram que as mulheres, no Brasil, representam mais de 50% da população e são as principais usuárias do SUS. Somente Vitória da Conquista, possui 197.634 mulheres em idade reprodutiva, de 10 (média de idade da primeira menstruação) a 49 anos. Em 2022, a região macro Sudoeste registrou 22.623 mulheres gestantes, sendo que 3.394 eram gestações de alto risco. 

Região vive desassistência da mulher – Karoline Rebouças, do Núcleo Regional de Saúde do Sudoeste e do Conselho Municipal de Saúde de Vitória da Conquista, falou sobre estrutura e funcionamento da atenção à saúde reprodutiva das mulheres, do pré-natal ao pós-parto. Ela chamou atenção para fragilidades na rede de saúde do Sudoeste para atendimento às gestantes. Karoline também explicou que a situação se agravou durante a pandemia da Covid-19, quando os postos de saúde ficaram fechados, e o retorno está sendo marcado por um processo de precarização. 

Segundo a profissional, existem deficiências nos municípios para atendimento pediátrico e do pré-natal, sendo este fundamental para identificar e tratar possíveis problemas como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, hipertensão arterial ou piora de hipertensão preexistente. Para ela, é preciso fortalecer essa rede, focando no atendimento materno infantil e engajamento das prefeituras. 

Saúde feminina na perspectiva classe, gênero, raça/etnia – A professora Raquel Souzas, do Instituto Multidisciplinar em Saúde do campus Anísio Teixeira da Universidade Federal da Bahia (IMSCAT/UFBA), lamentou que em 2021 houve um aumento significativo dos óbitos maternos. Ela apresentou dados que apontam que mulheres negras e pardas morrem mais e isso tem a ver com a condição social, econômica e histórica dessas mulheres.

Souzas frisou que os governos não criaram uma estratégia para sanar o problema. Segundo ela, uma das causas de morte maternal é pré-natal deficitário ou ausente. "A perda materna é devastadora para as famílias" afirmou, frisando que ocorre uma desestruturação da vida familiar. A professora citou causas como hipertensão, hemorragias, infecção puerperal e aborto não legalizado. Em sua avaliação, é preciso reforçar o recorte de classe, gênero e raça na construção e execução de políticas públicas de saúde para as mulheres. 

Mortalidade e mortandade materno-infantil no Sudoeste – O médico Luiz Almeida,  pediatra e integrante do Comitê de Acompanhamento e Controle da Mortalidade e Mortandade Materno Infantil no Sudoeste, e a médica Camila Teixeira, epidemiologista, doutora em Saúde Pública, pesquisadora vinculada ao Cidacs/Fiocruz-Ba, docente na Faculdade Santo Agostinho, e a enfermeira Bárbara Cabral, doutora em Saúde Coletiva e docente na Faculdade Santo Agostinho, fizeram um balanço sobre mortalidade e mortandade materno infantil em Conquista e no Sudoeste.

O Núcleo Regional de Saúde Sudoeste atende 74 municípios. De acordo com dados apresentados pelo trio, em 2022, a região registrou 55 óbitos infantis. Foi relatada ainda uma situação de precarização na rede, com a perda de leitos obstétricos nos hospitais São Vicente e de Base, em Conquista. Além disso, as vagas do Sudoeste para atendimento de pré-natal de alto risco são insuficientes e já ocorreu caso em que a gestante teve que se direcionar para outra região em busca de atendimento.

Entre as ações necessárias para solucionar a problemática, os profissionais apontam a necessidade de ativação das Câmaras de Investigação, responsáveis pelo levantamento de dados e orientação, busca ativa e adequado encaminhamento de gestantes que necessitem de pré-natal de alto risco, sensibilização das prefeituras para contratação de médicos e instalação de uma maternidade regional pra o Sudoeste.