Câmara Municipal de Vitória da ConquistaVereadoresSessão EspecialNotícia
22/03/2023 22:10:00
Na noite desta quarta-feira, 22, a Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) realizou uma Sessão Especial da Campanha da Fraternidade 2023, com a temática “Fraternidade e fome” e lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Na oportunidade, o Poder Legislativo reuniu parlamentares, autoridades religiosas e a comunidade católica para discutir a temática.
Existência da fome é escândalo - O Arcebispo Dom Josafá Menezes da Silva lembrou que esta é a terceira vez que a Campanha da Fraternidade se debruça sobre o tema da fome, demonstrando a atenção que o assunto recebe da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O líder religioso apontou que é escandaloso que, mesmo produzindo tanto alimento, a humanidade ainda tenha uma parcela que passa fome. “O Santo Padre nos diz que nós produzimos alimentos suficientes para todas as pessoas, mas muitas pessoas ficam sem o pão de cada dia, um verdadeiro escândalo. É dever de todos nós extirpar essa injustiça através de ações concretas”, pontuou.
Dom Josafá defendeu que a Paz e o desenvolvimento receba maior atenção em todo o mundo. “Precisamos aumentar os fundos destinados à promoção da Paz e do desenvolvimento dos povos. Precisamos silenciar as armas e o seu pernicioso comércio, para escutar a voz daqueles que choram desesperados por se sentirem abandonados”, concluiu ele.
Todos somos irmãos – O Reitor do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora das Vitórias, Padre Edmilson, destacou que a Campanha da Fraternidade busca recordar à Igreja e toda sociedade que todos somos irmãos. Ele afirmou ainda que “infelizmente na cultura consumista, o conceito de fraternidade está desgastado, o outro é concorrente, competidor, menos irmão. Não falta alimento, falta vontade política, falta olhar com sinceridade as necessidades dos outros, aprender a repartir para que ninguém fique com fome”.
O padre salientou também que é imprescindível sensibilizar a sociedade e a igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do evangelho de Jesus. Finalizou sua fala afirmando que a maior e a única de todas as pobrezas é o amor.
“Não fomos feitos para morrer de fome” – A nutricionista e professora doutora da UFBA, Vivian Honorato de Carvalho, parabenizou a Igreja Católica pela escolha do tema da Campanha da Fraternidade desse ano, que de grande relevância histórica e social. Ela evocou o sociólogo Josué de Castro que denunciou a fome como um flagelo fabricado pelos homens contra outros homens.
Vivian ressaltou que se a sociedade soubesse viver pela partilha não haveria fome. A professora apresentou à plateia uma série de imagens que demostram a gravidade da situação alimentar no país, como pessoas em filas pra comprar ossos e a crise humanitária que vitimou inúmeros Yanomamis por desnutrição. Ela frisa que a fome acaba com a dignidade humana e expõe o corpo a todos os tipos de doença, mesmo uma simples gripe pode levar à morte uma pessoa desnutrida. A fome mata porque fere o ciclo natural da vida, “porque não fomos feitos para morrer de fome”.
Em sua fala, fez um relato histórico do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea): criado em 1993 por Itamar Franco; extinto em 1995 por FHC; retomado em 2003 por Lula; extinto novamente, em 2019, por Jair Bolsonaro; e recriado em 2023 por Lula. A professora Vivian avalia que se deveria ter intensificado as ações de combate à fome quando o país saiu do Mapa da Fome em 2014. Mas houve um retrocesso e o Brasil retornou ao mapa em 2022. Ela informou que, atualmente, 15,5% da população brasileira vive em situação de fome, mas essa “situação não é igual em todo o país”. No Nordeste existe uma prevalência maior e o índice está acima dos 20% da população. Vivian pediu a participação popular no combate à fome e o engajamento na 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
A Constituição é quem garante os direitos sociais - Representando a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), o professor Claudio Oliveira Carvalho lembrou que essa é a terceira vez que a fome pauta a Campanha da Fraternidade. Após fazer o recorte histórico, lamentou o fato do Brasil continuar sofrendo com as mazelas da fome. “Temos no país 125 milhões de pessoas que vivem algum grau de insegurança alimentar. São 33 milhões de pessoas passando fome e quem tem fome, tem pressa”, afirmou. O professor Cláudio ressaltou a importância da economia brasileira para o mundo e enfatizou o contraste entre a riqueza do país e o Índice de Desenvolvimento Humano. “O Brasil está entre as maiores economia do mundo, mas quando falamos em IDH, o Brasil despenca. Isso acontece porque o país ainda concentra muito a renda entre poucas pessoas”, declarou. Claudio também defendeu a necessidade de reforma agrária no país, enfatizando que é a Constituição Brasileira quem garante os direitos sociais, como alimentação, saúde, moradia, educação. “O alvo da reforma agraria é a grande propriedade e não é qualquer uma. É somente aquela que não respeita as relações de trabalho, o meio ambiente e a produtividade”, declarou.
Meio ambiente e segurança alimentar – Membro do Conselho de Segurança Alimentar de Vitória da Conquista, Regina Dantas destacou a relação de proximidade entre o cuidado com o Planeta Terra, o equilíbrio na relação entre o homem e o meio ambiente e a segurança alimentar.
Ela destacou o trabalho feito pelo Padre Júlio Lancellotti, pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo, que atende a diversas pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar. “Tive o prazer de conhecer o trabalho do Padre Júlio Lancellotti. Estar lá é uma experiência indescritível”, apontou ela.
Missão evangelizadora – O Secretário Municipal de Educação, Edgard Larry, falou da importância da iniciativa da CNBB pela missão saudável e evangelizadora que desenvolve no Brasil em promover a Campanha da Fraternidade. Ele assegurou que “Nesse tempo quaresmal, momento forte de conversão, por meio da prática do Evangelho, somos provocados a enxergar a realidade tão cruel dos nossos irmãos que, infelizmente, continuamos a crucificar Jesus com nossas indiferenças e omissões.” Larry finalizou relatando a importância de se libertar do mal e refazer suas vidas banhadas no amor e na justiça.