Câmara Municipal de Vitória da ConquistaSessão EspecialNotícia
21/10/2022 15:42:00
Criada em 1990, a
campanha Outubro Rosa, é realizada anualmente como forma de promover ações de
conscientização e prevenção contra o câncer de mama, que acomete milhares de mulheres
todos os anos. Segundo o Inca, para cada ano do triênio 2020-2022, é estimado
que 66.280 mulheres sejam vítimas do câncer mamário. O risco para cada 100 mil
mulheres é de 61,61 casos.
Por esse motivo,
a Câmara Municipal de Vitória da Conquista realizou uma Sessão Especial para
discutir a temática. De autoria da vereadora Lúcia Rocha (MDB), esse ano a
sessão foi realizada na manhã desta sexta-feira, 21 e contou com a presença de
médicos especialistas e profissionais da área, população em geral, além dos
parlamentares.
Ampliação dos
serviços médicos e políticas públicas - A vereadora Lúcia Rocha (MDB),
proponente da sessão, se declarou orgulhosa em trazer a temática para ser
discutida na casa todos os anos. “Discutir o diagnóstico precoce e diminuir a
mortalidade precoce, é a função dessa campanha”, disse, contando um pouco da
história da campanha ‘Outubro Rosa’. Ela explicou que o câncer de mama é o
segundo mais frequente no mundo e que no Brasil o número de mortes por câncer
de mama é alto, “por isso a importância dos exames de rotina”, falou. A
vereadora lembrou que “temos uma obrigação imensa com as mulheres. Precisamos
estar bem para, só assim cuidar bem do próximo” e completou dizendo que “essa
campanha vai além da conscientização, mas também para criar políticas públicas
para as mulheres”. Finalizou pedindo a ampliação da rede de atendimento e
serviços para as mulheres, cobrando a implantação do hospital da mulher em
Conquista.
Os tons cinza
do Outubro Rosa - O médico oncologista Renato Marinho destacou a retórica
das leis que norteiam o tratamento oncológico e a incoerência do discurso, que
na prática, não viabiliza uma prevenção propriamente dita. “A realidade do
nosso dia a dia, no tratamento do câncer de mama, não é tão rosa sim”,
declarou. Nesse sentido, discursou sobre o contraste do outubro rosa e o
outubro cinzento, ressaltando a importância de traçar políticas públicas e
caminhos para combater esses problemas. “O que significa ‘Outubro Rosa’ para as
mulheres do interior, quando chegam aos centros de tratamento de alta
complexidade, já com a doença em estágio avançado e com poucas chances de cura?
E para as que sequer têm acesso aos serviços de saúde? Ou pior, aquelas que
descobrem nas campanhas ou nos mutirões de mamografia que têm um tumor e não
conseguem tratamento?”, questionou o oncologista. Renato Marinho explicou que a
Lei nº 11.664 tem perspectivas desalentadoras. “Essa lei está em vigor desde
abril de 2009 e garante assistência integral à saúde da mulher, incluindo
informação, prevenção, detecção, tratamento, controle e seguimento
pós-tratamento do câncer de mama”, explicou. “O mundo busca um diagnostico
precoce e o Brasil está na contramão, pois o diagnóstico aqui no país tem sido
cada vez mais tardio e acarretando maior índice de mortalidade”, pontuou o
médico, criticando a queda na cobertura de mamografias e os constantes cortes
no orçamento dos serviços de oncologia. “Existe um risco de termos um apagão no
setor de tratamento oncológico no próximo ano, no Brasil”, alertou. Renato encerrou
seu pronunciamento destacando as limitações da oferta do serviço oncológico em
Vitória da Conquista, ressaltando a redução de unidades radioterapia no
município. “Em nossa região, estamos ganhando contornos trágicos em relação ao
serviço de radioterapia. Infelizmente, essa é uma situação que tem reflexos.
Temos que aproveitar o Outubro Rosa para não deixá-lo tão cinza”, afirmou.
Precisamos
falar sobre o câncer de mama - A coordenadora de Atenção à Mulher, Gislane
Fontes, representando a secretária de Saúde, Ramona Cerqueira, reforçou o
compromisso da gestão municipal em intensificar as ações que deem visibilidade
a campanha Outubro Rosa diante da importância do assunto. “A campanha Outubro
Rosa é uma oportunidade de mobilizar toda a sociedade para falarmos sobre o
câncer de mama”. Ela falou também sobre o exame da biópsia que visa a
visualização do tecido mamário para a detecção de um possível nódulo. “Neste
sentido, foi feito um estudo recente onde é possível ampliar e monitorar com
mais rapidez qualquer possibilidade de progressão da doença”, afirma. Por fim,
ela reforçou a importância do reconhecimento da existência do câncer de mama e
cobrou a criação políticas públicas eficazes tanto para prevenção quanto para o
tratamento da doença.
Acolhimento é
fundamental no tratamento – A psicóloga Alba Rosane Silveira representou a
Casa do Amor, instituição da sociedade civil que acolhe pacientes carentes em
tratamento de câncer em Conquista. A profissional, que é voluntária na
instituição, falou de sua experiência no atendimento a mulheres com câncer de
mama. Ela frisou que essas mulheres enfrentam uma “dor total”, porque se trata
de uma dor física, emocional, social e espiritual. Mulheres com estágio
avançado ou que perderam a mama enfrentam uma dor ainda maior e muito
preconceito, inclusive de pessoas próximas como os companheiros. Alba alertou
para a necessidade de prevenção. De acordo com ela, as mulheres têm dificuldade
de acesso aos exames preventivos nas próprias unidades de saúde.
Valorização do
SUS - A advogada Joana Rocha, representando a OAB, destacou a importância
de se defender o SUS e disse que infelizmente não bastam apenas leis. Lembrou
que a lei do SUS garante o tratamento oncológico e toda prevenção, mas que, no
entanto, “o caminho de publicação da lei até se colocar em prática é muito
grande” e relatou que “queria estar aqui falando na condição de cidadã, por
viver isso na família, e imagino como isso é difícil para as mulheres, tanto na
rede privada quanto na rede pública”. Joana relatou as leis existentes e
destacou a lei que garante a reconstrução do seio. “É preciso conscientizar os
gestores de todas as esferas do SUS para que seja garantido o cumprimento de
todas as etapas do tratamento”, falou, finalizando pedindo a todos que se empenhem
para que as leis possam ser cumpridas de forma efetiva para garantir o direito
ao tratamento de saúde adequado as mulheres.
Viviane
destaca a Lei dos 60 dias para pacientes oncológicos - A vereadora Viviane
Sampaio (PT) falou sobre a importância da prevenção e a garantia do tratamento
tempestivo contra o câncer de mama. Nesse sentido, destacou o papel de
conscientização do Outubro Rosa. “Quando fui diagnosticada com um melanoma,
tive muito medo. Mesmo sendo uma profissional de saúde, com acesso a
informação, tive receio de morrer, de deixar meus filhos”, relatou a vereadora,
descrevendo o impacto da doença. Viviane falou ainda sobre a lei dos 60 dias
(12.732/12), que começou a vigorar em maio de 2013. “Essa lei garante ao
paciente com câncer o direito de iniciar o tratamento no Sistema Único de Saúde
(SUS) em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico da doença. No entanto, o
próprio Poder Público descumpre o dispositivo legal que protege os pacientes
oncológicos”, criticou. Por fim, a vereadora lamentou a sobrecarga dos
profissionais de saúde que atuam na rede de Atenção Básica, no rastreio da
doença, e comemorou o fato de não existir demanda reprimida para mamografias em
Vitória da Conquista.
Precisamos nos
cuidar em todo o tempo – A psicóloga Núbia Torres parabenizou a vereadora
Lúcia Rocha (MDB) pela proposta da Sessão Especial em comemoração ao Outubro
Rosa e detalhou sua história de vida diante do diagnostico de câncer. “Outubro
é o mês que eu nasci e renasci. Eu sou sobrevivente a três câncer de mama e
estou há 90 dias operada do quarto câncer de mama. Todo mundo tem dificuldade e
o câncer não respeita classe social”, descreveu. A psicóloga ressaltou a dor
emocional que as mulheres com a doença sofrem após o primeiro diagnostico e ressaltou
que existe tratamento e vida pós o diagnostico. “No momento que você recebe a
notícia é como uma sentença de morte, é preciso cuidar das emoções e da
espiritualidade da paciente e trabalhar com aquela paciente para que ela saiba
que existe vida após a doença”, ressaltou. Núbia destacou a sua fé como fonte
de motivação para enfrentar a doença e reforçou que é preciso estar atenta aos
sintomas. “Nós estamos nessa terra para viver até o dia que Deus nos permitir,
precisamos nos cuidar em todo o tempo e estar atento aos sintomas. Precisamos
também ter políticos comprometidos com a saúde da mulher”, encerrou.
Vida saudável
e autocuidado são fundamentais para prevenção – A mastologista Isabel
Andrade destacou que toda a sua formação foi no SUS, onde ela pode constatar o
quanto o diagnóstico tardio é danoso para o tratamento de mulheres com câncer.
Ela avalia que, além das deficiências em políticas públicas para essa
problemática, o comportamento individual também traz implicações. A médica
ressaltou que mulheres levam uma rotina estressante, com múltiplas tarefas, e,
por vezes, acabam negligenciando a própria saúde. Isabel falou dos fatores de
risco genéticos, mas também salientou outros como o sedentarismo e má
alimentação. Ela orientou as mulheres a buscar um estilo de vida saudável e a
fazer a mamografia. Este exame não previne a doença, mas pode ajudar no
diagnóstico precoce, o que aumenta a expectativa de cura.
Mais
investimentos - Valdemir Dias do (PT) líder da bancada de oposição,
ressaltou a importância do tema discutido e relembrou que é preciso mais
políticas públicas para a área. Criticou o limite de investimentos para a
saúde, contando a grande demanda de pessoas que buscam ajuda para conseguir
realizar um exame. “As campanhas são importantes para possamos trabalhar com
políticas públicas o ano inteiro”, falou questionando “como posso ter uma
prevenção, se não tenho acesso nem ao diagnóstico?”. Pediu que a população
possa avaliar como estão sendo conduzidas as políticas públicas na saúde e
cobre melhorias.
Prevenção
primária é a saída - O vereador Augusto Cândido (PSDB) refletiu sobre a
relação entre os cânceres de mama, próstata e intestino. “Essas doenças têm um
fator em comum: 80% delas tem causas externas e apenas 15% tem uma relação
hereditária em comum”, explicou. Como médico, o vereador também sustentou a
necessidade da prevenção para evitar o aparecimento da doença. “É preciso
cuidar da alimentação e praticar atividade física. Essa é a prevenção primária
que vai nos ajudar a reduzir a incidência do câncer”, orientou. Em relação a
prevenção secundária, Augusto defendeu o diagnóstico precoce, cobrando
políticas públicas que garantem o acesso ao tratamento oncológico.
“Infelizmente, muitos pacientes não chegam a tempo para um tratamento adequado
e essa situação aumento o índice de mortalidade”, pontuou. Ele encerrou a fala
destacando a importância do acolhimento daqueles que foram diagnosticados com o
câncer. “São necessárias o acolhimento com o paciente, família e pessoas que
sofrem”, finalizou.
O SUS precisa
ser valorizado - O vereador Chico Estrella (PTC) iniciou a fala
parabenizando a vereadora Lúcia Rocha (MDB), pela iniciativa da Sessão Especial
para debater o Outubro Rosa. Emocionado, Chico compartilhou o drama que a
esposa dele tem vivido após receber o diagnóstico da doença. “Estou vivendo um
momento muito difícil da minha vida, em que minha esposa teve o diagnóstico de
câncer. Realmente é choque muito grande, a gente costuma ver isso em outras
famílias, mas não acreditamos quando acontece com a nossa”, disse. O vereador
reforçou a importância de políticas públicas para viabilizar o tratamento dos
pacientes e ressaltou a importância de valorização do SUS. “Nós temos um SUS,
um dos maiores planos de saúde que uma nação possa possuir, mas infelizmente o
SUS peca no início”, disse. Por último, o vereador falou sobre a falta de
condições para o tratamento dos pacientes no país. “Como poderíamos fazer para
que as pessoas tivessem uma boa alimentação se a maioria do nosso povo passa
fome, é triste o que acontece no nosso país, neste momento que sentimos a dor
de uma das piores doenças precisamos, precisamos discutir políticas públicas
para a prevenção e tratamento do câncer de mama”, encerrou.