“Uma Conquista acessível, inclusiva e anticapacitista”, foi
tema de uma audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira, 17, na
Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista. A realização da audiência foi uma
parceria do mandato da vereadora Viviane Sampaio (PT) com o conselho municipal
da pessoa com deficiência.
Viviane explicou que a audiência era para ter sido realizada
em setembro, mas por falta de datas na casa, só agora pôde ser realizada.
Também explicou que “por ser um tema de grande relevância, é importante que
esse tema seja debatido para que políticas públicas e orçamentos voltados para
a pessoa com deficiência sejam debatidos”.
Investimento na educação e mercado de trabalho - Deise Placha, representante da APAE, disse que ao longo dos anos, com muita luta, “tivemos muitos
avanços, mas ainda não é suficiente”. Também lembrou que é preciso trabalhar
muito para vencer todas as dificuldades e “para termos uma cidade inclusiva”.
Ela ainda falou que é preciso avançar na acessibilidade e que com discussões,
muitas coisas já foram feitas, “mas ainda precisamos caminhar”, lamentou.
Acrescentando que é preciso vencer a barreira da educação e do emprego, citou a
lei de cotas, afirmando que muitas empresas ainda não a respeitam. Falou do
acesso à escola, principalmente para pessoas com mais de 18 anos e finalizou
lembrando que o “mais importante é poder estar aqui e buscar a união, porque só
assim somos fortes”.
A gente precisa está em todos os espaços - Alana
Sheila, presidente da Associação Conquistense de Integração do Deficiente –
ACIDE, destacou o conceito de anticapacitista e salientou o preconceito sofrido
pelas pessoas com deficiência. Segundo ela, esse tipo de ação ainda está muito
presente na sociedade atual: “Para o pensamento capacitista, todas as pessoas
com deficiências visuais são iguais e não existe individualidade entre os seres
humanos. Os pensadores capacitistas acham, por exemplo, que a pessoa com
deficiência não pode estar num plenário de uma Câmara de Vereadores. É
importante lembrar que todo ser humano é único e tem o seu potencial”. Alana
também falou a respeito da lei 13.146, que já traz punição para qualquer tipo
de violência que a pessoa com deficiência possa sofrer, e salientou a
importância da naturalização da acessibilidade para a população.
“Acessibilidade é um direito de todos, independente de ter ou não deficiência.
A sociedade precisa ter esse pensamento de acessibilidade as pessoas com
deficiência”, encerrou.
Educação, segurança e saúde para pessoas com deficiência - Joana Júlia, representando a OAB de Vitoria da
Conquista, iniciou sua fala fazendo sua autodescrição e disse que a OAB está
aberta para acolher demandas sobre a temática. Mãe de uma criança autista que
ainda não desenvolveu a fala funcional, ela relatou episódios de descriminação
com sua filha e disse que “para acabar com a postura anticapacitista é preciso
comunicação e diálogo para se levar informação, principalmente onde estão os
direitos da pessoa com deficiência”. Ela explicou que existem ordenamentos
bem-feitos no papel, “mas fazer com que funcione de fato depende de nós,
cobrar”. Ainda, pautou a saúde, educação e segurança para as pessoas com deficiência.
Por fim, pediu mais amparo emocional para as famílias e citou punições para
quem descrimina a pessoa com deficiência.
Somos vistos, mas não somos lembrados - Hebert Ferraz,
presidente do Conselho da pessoa com Deficiência iniciou a fala retratando a
experiência que presenciou no bairro Urbis 6, em Vitória da Conquista, onde uma
pessoa com deficiência física ficou durante horas no ponto de ônibus, esperando
um transporte coletivo que tivesse elevador, mas não conseguiu entrar em nenhum
coletivo pela falta de acessibilidade no transporte público. “Será que o
governo para pessoas é para pessoas com deficiência?”, lamentou dizendo que “a
gente tenta marcar com as secretarias municipais e não consegue e percebemos a
falta de compromisso dos representantes do governo municipal nas reuniões do
Conselho da Pessoa com Deficiência”. Hebert também destacou os problemas
relacionados as questões arquitetônicas nas ruas do município. “Quando fizerem
um projeto de arquitetura, chamem pessoas com deficiências para elas darem a
opinião a respeito da possibilidade de transitar por aquele local, infelizmente
somos vistos, mas não somos lembrados”, finalizou.
Falta de intérprete de libras em diversos órgãos –
Murilo Rocha Nunes, presidente da associação da pessoa surda, relatou que é
difícil o acesso aos hospitais, bancos e demais órgãos, devido à falta de
intérpretes para os surdos. “Se tem a rampa pro cadeirante, porque não tem o
intérprete para os surdos?”. Questionou também a faltam de intérpretes nas
empresas e disse que “não adianta ter vagas para PCD, se não existe inclusão”.
Também cobrou o cumprimento das leis e questionou a falta de intérprete na
Câmara: “Como o surdo vem aqui?”. Finalizou elogiando o trabalho dos interprete
e dos desafios a serem conquistados.
Promover autonomia no serviço social- Irlanda Gomes de
Carvalho, representando o Secretário de Desenvolvimento Social, Michael Farias,
destacou o trabalho com as pessoas com deficiência. “Na secretaria de
Desenvolvimento Social, um dos grupos prioritários são as pessoas com
deficiência. O sistema que trabalho consegue filtrar as pessoas com
deficiências e colocar elas como prioritárias”, disse. Também falou sobre a
realização do Cadastro Único para o recebimento dos programas sociais para
pessoas com deficiência e sobre o benefício de prestação continuada, que é
cadastrado na secretária de desenvolvimento social. “Temos atualmente cerca de
9.800 pessoas que são cadastradas no benefício de prestação continuada, que as
tornam prioritárias para o recebimento de benefícios. Nós temos parcerias com a
prefeitura, organizações da sociedade civil e estamos providenciando intérprete
para dar acessibilidade durante o atendimento na secetaria”, encerrou.
Fila de espera para atendimento na APAE - Elza Santos
Rodrigues de Freitas, presidente da APAE, falou sobre sua trajetória dentro da
instituição, primeiro como mãe de um filho autista que recebeu atendimento
durante anos e, agora, como presidente. Falou sobre as dificuldades em exercer
e oferecer os serviços, pois, segundo ela, muitas vezes faltam profissionais.
Pediu o apoio do município para que mande profissionais para que ajudem na
demanda. “A fila de espera na APAE está em torno de umas 400 pessoas”, lamentou
dizendo que “as pessoas têm o direito, mas, muitas vezes, não temos a condição
de receber”. Finalizou dizendo que “precisamos de ajuda para isso. Faltam
profissionais e a maioria das pessoas que tem alta dos atendimento voltam em
busca de apoio e novos atendimentos”.
“A sociedade está preparada para acolher os deficientes?”-
A Representante da Prefeita de Vitória da Conquista, Bruna Bacelar, iniciou
a fala destacando a importância de não ter apenas equipamentos que deem
autonomia para as pessoas com deficiência, mas a mudança cultural da sociedade
para o acolhimento destas pessoas. “Às vezes, a gente faz um esforço grande
para garantir um equipamento para alguém e não se preocupa em fazer um trabalho
para que a sociedade possa receber essas pessoas. Será que nas vias, os carros
respeitam os cadeirantes? Será que nós, como sociedade, estamos preparados para
essas pessoas?”, questionou. Ela ainda falou sobre o preconceito, as
dificuldades de acessibilidade existentes em Vitória da Conquista e ressaltou a
importância da audiência como local de debate e mudança social. “Sabemos das
dificuldades, e iremos passar as demandas para a prefeitura. Estou com vocês e
juntos caminharemos nesta batalha”, finalizou.
A educação Bilíngue precisa ser uma realidade - Eslane Mendes, Diretora da Associação de
Surdos de Vitória da Conquista agradeceu a oportunidade de fala e parabenizou a
Câmara de Vereadores pela iniciativa da Audiência, ela destacou a importância
de que todas as escolas de Vitória da Conquista tenham educação bilíngue, para
que as crianças e adolescentes surdos sejam acolhidos no aprendizado municipal:
“A educação bilíngue é uma luta nossa, e
não vamos desistir”, finalizou.
Nós não temos segurança em nossa cidade - Paulo
Henrique de Jesus, representante da Associação Conquistense de Integração do
Deficiente - ACIDE, salientou as dificuldades que os deficientes têm com a
falta de acessibilidade e segurança nas ruas de Vitória da Conquista.
“Infelizmente nós não temos segurança em nossa cidade, acidentes são
recorrentes. Precisamos pensar nos deficientes visuais, cadeirantes e também a
acessibilidade para os idosos”, encerrou.
“A sociedade também é para vocês e de vocês” - Josy
Rodrigues, assessora de Comunicação da Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais - APAE, anunciou um evento cultural que acontecerá no próximo dia
26, na APAE, com um show beneficente do cantor Xangai. A assessora também
relatou sua história de vida como irmã de um autista e falou da importância de
os deficientes terem autonomia no dia a dia. “A pessoa com deficiência tem voz,
é articulada e pode se defender. A sociedade também é para vocês e de vocês.
Eu, como irmã de autista, vejo o poder que a pessoa com deficiência tem e essa
é uma luta de todos nós”, disse. Por último, ela parabenizou a Câmara de
vereadores pelo número expressivo de audiências no ano de 2022, que debateu
questões que envolvam os deficientes no município. “É gratificante ver a
visibilidade que o poder legislativo tem dado para essas pessoas”, finalizou.