Aconteceu na noite dessa terça-feira, 10, uma audiência
pública sobre o Dia do Artista Plástico, festejado no dia oito de maio. O
evento foi proposto pelo vereador Chico Estrella (PTC) e contou com a
participação de artistas de diferentes segmentos da arte, representantes do Governo
Municipal e do Conselho de Cultura.
Cultura não pode ser refém da ignorância de governos – O
vereador Chico Estrella falou da arte como conexão da humanidade com o belo. Ele
afirmou que é bolsonarista, mas lamentou e criticou o que considera um equívoco
do Governo Federal que estaria “massacrando os artistas”, tirando as condições
de vida e de produção da categoria. O parlamentar defendeu investimentos do poder
público na produção cultural e alertou para uma situação de pouca valorização
da arte pela sociedade, em especial pelos governos. O vereador frisou que a
cultura não pode ser vítima da ignorância de governos. Chico colocou o mandato
à disposição na luta pelo reconhecimento da cultura. Ele lamentou a ausência da
maioria dos vereadores e agradeceu a participação do colega Ricardo Babão
(PCdoB).
Falta vontade política para valorização dos artistas
locais – O professor, compositor e poeta Dirlei Bonfim iniciou a fala
agradecendo o convite do vereador Chico Estrella para fazer parte da audiência,
ele ressaltou a dificuldade que os artistas plásticos locais enfrentam com a
falta de incentivo por parte do poder público. “Um dos primeiros atos do atual
governo foi extinguir o Ministério da Cultura. Eu, enquanto professor e
pesquisador, tenho o dissabor de perceber que alguns alunos abandonam os cursos
de mestrado por falta de bolsas de estudo”, disse. Por último, ele questionou
até que ponto o governo municipal está comprometido em colocar em prática
projetos permanentes para a cultura. “Para onde encaminham os recursos
destinados a cultura do município? Precisamos pensar propostas concretas de
valorização dos nossos artistas”, finalizou.
Sociedade também tem responsabilidade pelo estímulo à
cultura – Lula de São Sebastião, assessor do vereador Chico Estrella e
também produtor de eventos, lamentou o fim da MiConquista. Segundo ele, mais de
10 mil famílias eram beneficiadas com a festa, especialmente os ambulantes. Para
Lula, é preciso enxergar a cultura como geradora de empregos e renda e
estimular o setor em nível local. Ele frisou que o município já gerou vários
nomes em linguagens diferentes como Glauber Rocha (cineasta), Valéria Vidigal (artista
plástica) e Xangai (cantor e compositor). Para ele, não se pode esperar apenas
pelo poder público, mas mobilizar toda a sociedade. Lula lamentou que muitos
desejam e trabalham pelo fracasso de iniciativas culturais local. “Ah, vamos
acabar com a micareta porque Massinha está ganhando dinheiro”, ironizou. Ele
afirmou que o produtor Alexandre Massinha movimentava a cena cultural e com
isso outras iniciativas também surgiam, muitos estavam sendo beneficiados.
Qual o futuro da cultura, se não há valorização? – O presidente
do Conselho de Cultura de Vitória da Conquista, Jeremias Macário, iniciou a
fala questionando a desvalorização da cultura em âmbito municipal: “Eu enquanto
jornalista, cidadão e escritor me pergunto o porquê de tanto desdém com a cultura.
Que futuro os nossos artistas podem ter se não há investimentos de recursos que
viabilizem a arte?”, questionou. Ele ressaltou ainda sobre os ofícios enviados
ao Legislativo Municipal e ao Executivo para que os artistas locais se reúnem
com o poder público municipal na execução de projetos práticos. Eu sei que o secretário de Cultura tem nos
atendido, mas o poder público sempre foi moroso, desde muito tempo”, salientou.
Por último, ele pediu que haja a concretização do Plano Municipal de Cultura e
que a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer seja desmembrada para uma
secretaria exclusiva que trate dos assuntos de cultura da região.
Projeto avança com apoio de amigos – O produtor
cultural Vadinho Barreto afirmou que “fazer cultura com dinheiro é fácil”. Ele
frisou que está há 16 anos com o projeto Quintas de Maio, pelo qual já passaram
mais de 600 artistas. Vadinho ressaltou que tem feito produção cultural com o
apoio de amigos. Ele agradeceu o convite para a audiência e destacou a
importância do debate.
Não é o dinheiro do Estado
que deve motivar o artista - O coronel e escritor Cassiano Ribeiro iniciou
a fala destacando que o artista é independente do Estado e que não deve ser
tutelado pelo Estado, e que é necessário que os artistas tenham iniciativa de
criar, independente do apoio do poder público. “Eu sou otimista em relação à
arte, àquela profundidade que os artistas possuíam era numa época em que o
Estado não intervia. Nós temos a experiência e o histórico e precisamos
convencer as outras pessoas a participarem dos nossos projetos”, destacou. Ele
falou sobre a falta de concorrência no meio artístico e sobre a necessidade de
os artistas se motivarem a serem melhores entre si mesmos. “Não é o dinheiro do
Estado que deve motivar o artista, mas a motivação é dos artistas um com os
outros em fazerem obras cada vez melhores, falta paixão pela arte.”, finalizou.
Falta apoio para os artistas – O compositor Adrialdo
falou da falta de incentivo ao artista e relatou experiência negativa com um
projeto vindo de São Paulo, no qual apresentou cinco composições musicais, mas
não obteve resposta. Ele frisou que não encontrou respaldo na cidade para
executar e registrar as músicas. Adrialdo ainda falou de promessas não
cumpridas sobre registro das músicas e execução no Carnaval de Salvador. Ele
cantou uma das composições, “Muriçoca”. O artista ainda nutre esperança de que
suas composições ganharão espaço.
É preciso valorizar todo tipo de cultura - A
artista plástica Valéria Vidigal falou da Semana de Arte Moderna, que completou
100 anos em fevereiro de 2022. Lembrou que em 1922, quando o evento ocorreu, os
artistas plásticos passavam por dificuldade financeiras, e 100 anos depois não
mudou muito o cenário relacionado à falta de incentivo para os artistas no
país. Ela destacou a importância de os próprios artistas fomentarem e
valorizarem a arte dos colegas e, neste sentido, parabenizou os outros artistas
presentes na audiência como incentivadores da cultura no âmbito local. “É preciso
valorizar a cultura, seja ela como literatura, música ou nas artes plástica, e
nisso eu quero chamar a atenção dos próprios moradores de Vitória da Conquista,
para que visitem os nossos museus e valorizem os artistas locais”, disse. Por
último ela falou sobre a importância da valorização do turismo local, como
forma de divulgar a cultura do município. “A nossa região não deve ser
conhecida como portal da Chapada, mas como Planalto da Conquista, não podemos
perder a nossa identidade e a nossa cultura específica de Vitória da
Conquista”, salientou.
Museu é realização de um sonho – O artista Allan de
Kard falou de seu espaço, o Museu de Kard, uma área de 500 mil m², na BA-262,
saída para Anagé, voltada para a produção artística. Ele explicou que o museu é
a realização de um sonho de infância. “O Museu de Kard é o meu grande quintal
imaginário”, disse. Allan falou da necessidade de apoio do poder público à
cultura e frisou que a má aplicação dos recursos públicos é pior que a ausência
de investimentos. O artista pediu mais presença dos conquistenses no museu.
Allan presenteou Chico Estrella com uma estátua.
Arte é feita com
paixão - O vereador Ricardo Babão (PCdoB) parabenizou o proponente da audiência
pública, vereador Chico Estrella (PTC), pela iniciativa e destacou o papel do
Legislativo conquistense em debater ações concretas que visem beneficiar os
artistas locais e valorizar a cultura em Vitória da Conquista. “Esse é o nosso
papel, buscar soluções para melhorar a vida dos nossos artistas. Eu me sinto
horado em ter a presença de tantos nomes importantes que representam as artes
locais e saliento a valorização que o legislativo tem dado à cultura, já que
somente neste ano essa é a segunda audiência realizada pela Câmara voltada para
assuntos relacionados à cultura”, disse. Por último, ele falou sobre os projetos
que o executivo municipal tem pensando para a valorização da cultura em Vitória
da Conquista. “Sou da oposição, mas sabemos do trabalho da prefeita Sheila
Lemos para criar projetos que valorizem os nossos artistas. Arte é feita com
paixão e trabalhar na vida pública também precisa ser feito com a mesma
paixão”, finalizou.
Artista relata situação do Cristo de Mário Cravo, 40 anos
sem nenhuma reforma – A artista plástica Lilian Moraes alertou para a
situação do Cristo de Mário Cravo. Segundo ela, a estátua pode cair, já que são
40 anos de existência sem nenhuma reforma. Ela avisou que participou da
audiência como “pombo-correio” da família Cravo. O Cristo é um ícone de Vitória
da Conquista, mas para a família Cravo, não existe vontade política para reformar
a obra. A artista explicou que não existe molde para o Cristo, assim se a estátua
cair, não poderá ser feita outra. “Quando é que o Cristo foi reformado?”,
questionou. Ela visitou o Cristo para averiguar a situação e verificou intervenções
e perfuração da estrutura. Lilian explicou que não se sabe qual a real situação
do Cristo, mas é urgente uma reforma. Em sua fala, Lilian, que é conquistense,
disse que saiu de Conquista por não encontrar espaço para uma artista. Ela
também cobrou incentivo público à cultura e afirmou que as artes são a base da
sanidade mental da sociedade.
A arte não pode ser engessada
- A artista Rosa Aurich iniciou a fala destacando a importância da arte no
desenvolvimento econômico e para a liberdade de expressão dos jovens que, nas
palavras dela, por falta de incentivo social, sofrem com as drogas, álcool e
tantas problemáticas que envolvem a sociedade atual. “Precisamos falar da
importância de o poder público tratar a arte como as outras áreas de
desenvolvimento econômico. Quando a gente cria um artista, quando ele compõe
uma música, todos os sonhos infantis dele são expressos, por isso a arte não
pode ser engessada”, disse. Ela salientou que é preciso estimular o
desenvolvimento da arte como expressão de liberdade. “Quando uma pessoa faz
arte, ela coloca para fora a sua essência e para isso, é preciso liberdade de
expressão”, finalizou.
Cultura precisa de assertividade do poder público – Afrânio
Leite Garcês ressaltou seu amor por Vitória da Conquista e afirmou que não tem
preferências partidárias por quem está no poder, mas se preocupa com quem está
atuando em prol da cidade. Ele pediu que a Casa “deixe as picuinhas de lado” e
se volte para o repasse dos recursos necessários para a Secretaria de Cultura,
Turismo, Esporte e Lazer. Ele falou de dificuldades que os artistas enfrentam e
relatou experiência própria na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(Uesb), ao solicitar apoio para a publicação de um livro.
Projeto ‘Casa Sensorial’ - O médico e membro do
Conselho de Cultura de Vitória da Conquista, Armênio Santos, iniciou a fala
descrevendo o momento histórico que Vitória da Conquista vive como ‘a
restauração da cultura’. Mas disse que é preciso pensar em fontes alternativas
da cultura conquistense que estão, por exemplo, nas feiras livres. “A feira de
Conquista é um centro de cultura, temos que pensar também na cultura que
acontece nas escolas e nos locais históricos do nosso município, como o ginásio
Padre Palmeiras, os antigos prédios da cidade, o Poço Escuro, e tantas ruas e
lugares históricos”, ressaltou. Ele chamou a atenção para o movimento cultural
que pretende restaurar a história cultural do município e relatou o Projeto
‘Casa Sensorial’, que deve ser realizado no Museu de Kard e tem como objetivo
levar os visitantes a percorrerem partes de uma casa com os olhos fechados, pensando
em outros sentidos do corpo. “Por fim, quero parabenizar a todos os que fazem
parte deste evento tão importante e necessário para Vitória da Conquista, que é
essa audiência pública”, finalizou.
Falta de investimentos na cultura é tão grave quando na
saúde – O historiador e produtor cultural, Afonso Silvestre, falou do
conceito de cultura. Ele também defendeu que é preciso ajudar o poder público
no desenvolvimento de políticas culturais. Para ele, a falta de investimentos
na cultura é tão grave quando na saúde. Segundo o historiador, os problemas
dessa falta de valorização vêm a logo prazo. Ele ainda afirmou que política de
cultura não é evento e que deve ter estímulo para que as próprias comunidades
possam realizar suas ações culturais. Afonso ainda cobrou técnicos em políticas
culturais na gestão pública e parabenizou o vereador Chico Estrella pelos
debates que vêm promovendo sobre cultura.
É preciso recuperar o
Cristo de Mário Cravo- O produtor Cultural Pedro Alexandre Massinha falou
sobre a importância do entretenimento, da cultura e da arte para a sociedade.
“Sabemos o quanto o entretenimento é importante para o desenvolvimento
econômico e emprega tanta gente”, disse. Ele salientou que o Legislativo conquistense
juntamente com o secretário de Cultura fale com a prefeita Sheila Lemos a
respeito da restauração do Cristo de Mário Cravo e invista mais verbas na
cultura local. “Precisamos que a prefeitura restaure o Cristo, esta obra tão
necessária em Vitória da Conquista. E a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer
precisa de incentivos financeiros, essa audiência é de suma importância e eu
acredito que todos os vereadores deveriam estar presentes aqui”, finalizou.
Gestor pede que Cultura fique com 5% do orçamento
municipal – O secretário de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Xangai,
falou da baixa frequência nas reuniões do Conselho Municipal de Cultura e em
debates como a audiência. “As cadeiras estão desocupadas”, disse. Ele falou da
destinação de recursos do orçamento municipal para a pasta da Cultura. Atualmente
o setor fica com 1% do orçamento. Xangai pediu um aumento para 5%. Em sua fala,
explicou que o município adquiriu a casa onde Glauber Rocha nasceu, mas o
espaço necessita de reforma. Xangai falou que outros espaços também pedem
reformas como o Solar dos Ferraz, Memorial Régis Pacheco e a Praça Céus, além
de tombamento de prédios históricos. “Me dê os 5% que não vou pedir mais nada a
ninguém”, falou. O secretário especulou a existência de R$ 3,6 milhões para a
Casa Glauber Rocha, mas desconhece a veracidade da verba.