Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaNotíciaAlexandre Xandó Nildo FreitasRicardo Babão
21/02/2022 21:43:00
Uma audiência pública realizada na noite desta
segunda-feira, 21, na Câmara Municipal de Vitória da Conquista, debateu os
preços do gás de cozinha e dos demais combustíveis derivados do petróleo, no
município. Proposta pelo vereador Alexandre Xandó (PT), a audiência contou com
a presença de representantes do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro)
e com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). O objetivo foi dialogar com
a população, lideranças e parlamentares sobre os aumentos abusivos dos preços
praticados em Vitória da Conquista, além das consequências da privatização da
Refinaria Landulfo Alves, que torna a gasolina e o gás da Bahia um dos mais
caras do país.
Autor da
audiência, o vereador Alexandre Xandó (PT) destacou a problemática do aumento
no preço dos combustíveis em Vitória da Conquista como um tema fundamental para
ser debatido pelo legislativo conquistense, bem como pela sociedade civil.
Segundo ele, é inadmissível que os valores estejam tão altos num país que figura entre os maiores produtores de
petróleo do mundo, e que o município tenha preços acima dos praticados na
redondeza. Ele agradeceu a presença das lideranças representadas no plenário e
destacou os nomes que compuseram a mesa da audiência.
Moradora dos Condomínios Residenciais dos
Campinhos, Lia Rocha relatou um episódio que aconteceu em sua vizinhança, onde
uma família, por não ter condições financeiras de comprar um botijão de gás,
quase incendiou sua casa após acender uma fogueira dentro da residência “Nós
estamos sofrendo com essa situação, tudo isso por conta de uma
irresponsabilidade governamental”, disse. A moradora pediu aos representantes
políticos que lutem para que os direitos da população sejam garantidos e que a
comunidade viva dignamente. “Espero que tenhamos condições de comprar ao menos
um gás por mês. Diante desta inflação, não temos condições de comprar alimentos
e remédios, quiçá um gás de 120 reais”. finalizou.
Representando os pequenos agricultores, Anderson
Amaro falou sobre as políticas de preço do petróleo e a relação com o
encarecimento da logística dos alimentos que saem do campo até a mesa do
consumidor. “O Governo Federal não está pensando em quem produz, nem em quem
consome, fazendo isso desde que expôs a nossa agricultura a uma dependência de
insumos fabricados fora do país e agora com os constantes aumentos no preço do
combustível”, afirmou Anderson Amaro.
Ele lamentou a privatização da Refinaria
Landulfo Alves e criticou o comportamento dos acionistas da empresa, que “fazem
uma verdadeira chantagem com o Poder Público em relação às políticas de preço e
castiga a população com a margem de lucro imposta por eles. “Nós, camponeses do
Brasil, estamos comprometidos na construção de uma soberania alimentar para o
povo brasileiro e por isso estamos articulando importantes alianças, como essa
do SindiPetro. Defendemos a soberania do setor energético do país para que
possamos fortalecer a nossa agricultura”, pontuou.
Radiovaldo Costa, presidente do Sindicato dos
Petroleiros da Bahia, iniciou a fala
fazendo uma explanação histórica sobre as primeiras explorações do petróleo no
Brasil e seu descobrimento no país. Radiovaldo também falou da experiência de
35 anos na Petrobras e da importância da empresa para o desenvolvimento do
Brasil. “O petróleo está nas paredes, nas maquiagens das mulheres e movimenta o
mundo, não existe o modelo de vida sem o petróleo”, salientou. De acordo com o
presidente do sindicato, o Brasil consome em média 2 milhões e 700 mil barris
de petróleo por dia, e estima que o primeiro poço de pré-sal, descoberto em
meados de 2005, custou R$ 1 bilhão. Ao finalizar, Radiovaldo ressaltou que a
Petrobras tem sido “saqueada” nos últimos anos. “O que estão fazendo com a
Petrobras é um crime. Defender a Petrobras é defender o Brasil”, concluiu.
O coordenador do Programa de Orientação e
Proteção ao Consumidor (Procon), Murilo Mármore lamentou os constantes
reajustes no preço dos combustíveis e afirmou que essa situação
atinge sobretudo os mais carentes. Nesse sentido, teceu duras críticas aos
gestores que conduziram, e estão conduzindo, a Petrobras, citando os casos de
corrupção e equívocos técnicos na empresa como a privatização da refinaria de
Pasadena. “Os cidadãos brasileiros pagam mais de US$ 30 bilhões para os
acionistas americanos da Petrobras justamente por causa dos casos de corrupção
na empresa”, declarou.
Tratando do preço do combustível praticado em
Conquista, o procurador da Prefeitura Municipal, Murilo Mármore, informou que o
Procon iniciou medidas para levantar dados que sejam suficientes aos
esclarecimentos sobre a composição do preço da gasolina, diesel, etanol e gás de
cozinha. “Estamos distribuindo formulários para que os donos dos postos de
combustíveis descrevam a composição de preço dos seus produtos, apresentando as
devidas notas fiscais de cada mês no período de oito meses”, informou. Ele
reconheceu a limitação dessa iniciativa, mas ressaltou a importância de uma
resposta do Poder Público. “Isso é suficiente? Não! Mas é o início da caminhada
que todos nós precisamos fazer com a devida participação do Ministério Público
nesse esforço coletivo. Disse ainda que a lei federal precisa estabelecer
limites para que não haja a criação de redes de postos. “Isso, na prática,
configura-se um cartel” pontuou.
Em sua fala, o
presidente do Sindicato dos Taxistas de Vitória da Conquista, Nilson Pinheiro,
destacou a problemática dos preços do combustível no município como um debate
antigo e, em seu ponto de vista, sem sucesso. Ele salientou a falta de um
representante do Ministério Público na audiência, o que prova mais uma vez a
omissão do órgão sobre o assunto. “A gasolina já chegou a custar R$ 1,94 em
Vitória da Conquista e hoje o combustível sobe constantemente”, disse. Ele
também questionou o porquê de toda vez que a Petrobras aumenta o valor da
gasolina, o etanol, que é combustível produzindo 100% no Brasil, sobe também.
“Precisamos continuar com a luta diante dos preços”, finalizou.
Em seu pronunciamento, o vereador Nildo Freitas
(PSC) ressaltou o trabalho da Câmara Municipal no combate aos abusos do mercado
de combustível no município. “O que é preciso fazer pra que tudo isso que
estamos ouvindo e discutindo aqui se encerre? Essa Casa vem ao longo das
legislaturas acompanhando de perto esses abusos, inclusive com documentos que
comprovam o que estamos falando” afirmou.
O vereador lamentou a ausência do Ministério
Público e de representantes dos postos de combustíveis na audiência pública. “O
Ministério Público e os postos de combustíveis deveriam estar aqui para
responder aos questionamentos da população”, afirmou. Nildo destacou também o
trabalho da Comissão de Defesa do Consumidor e lamentou a disparidade de preço
entre os postos de gasolina nos municípios da região. “Eu não quero ser
pessimista, mas sinto que as coisas vão daí para pior. Teremos mais reajustes,
mais queixas e a pergunta é: onde está a solução para esse problema? Enquanto
poder legislativo, vamos continuar dando voz à população e espelhando as
demandas”, pontuou.
Já o vereador Ricardo Babão (PCdoB) falou da
luta pelo fim cartel dos combustíveis em Vitória da Conquista. “O cartel só vai
acabar quando o judiciário tomar um posicionamento”, disse. Babão atribuiu
ainda a responsabilidade do preço dos combustíveis ao Governo Federal e
salientou que “somente quando um novo presidente for eleito, o combustível terá
uma redução”. Por último, elogiou a iniciativa do vereador Alexandre Xandó
(PT), pela audiência e ressaltou que “pensar política é pensar no povo”.
Representando o Movimento Levante Popular,
Larissa Ribeiro destacou que a audiência pública é de extrema importância para
refletir sobre as políticas criadas para o setor energético do país. Ela se
posicionou contra a privatização da Petrobras e lembrou das lutas dos
petroleiros, ressaltando a importância dos movimentos sociais nas conquistas da
classe trabalhadores.
Djacísio da
Rocha, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), ressaltou a
situação dos trabalhadores que hoje “compram ossos por não terem condições de
comer carne”, fora, segundo ele, as outras despesas com água, luz e gás de
cozinha. “O povo mais antigo são as pessoas mais pobres”, disse. Por último, o
membro do MPA salientou que, no caso da Petrobras, o remédio não é vender a
empresa, mas trocar a administração do governo federal.
O taxista Jean Santos falou de uma viagem que
fez a Itambé e da surpresa ao abastecer em um posto de combustível daquela
cidade. “Parei no posto de um empresário aqui de Vitória da Conquista. Fiquei
surpreso quando percebi que a gasolina era a mesma, mas o preço era bem
diferente”, afirmou. O taxista lamentou os constantes aumentos e afirmou que
60% do faturamento dos taxistas é gasto com gasolina. “Não está dando mais para
trabalhar”, afirmou. Jean encerrou sua participação pedindo o apoio dos
vereadores para intensificar as fiscalizações nos postos de combustíveis para
combater os abusos desse mercado.
Wesley Brito, do
Movimento ‘Amigos da Cidadania’, iniciou disse que tomou conhecimento, nos
últimos dias, de uma nova ação civil pública em Vitória da Conquista que
investiga a linha de preços da gasolina no município, mas até o momento nada
foi concluído. Ele falou da necessidade de se buscar junto com os atores
sociais, soluções para essa problemática; “Vitória da Coquista tem força
política, tem representatividade e as pessoas precisam de transparência sobre
as ações que culminam no aumento dos preços. Ao finalizar, destacou que o povo
é mais interessado nesta discussão. “A gente precisa trazer a verdade para a
população, eu não defendo a venda da Petrobras, mas ela precisa ser
administrada com responsabilidade”, falou.
Representando o SindLimp, Luciano Souza
aproveitou sua participação na audiência pública para questionar a política de
dolarização do petróleo e a proporção entre os custos dos combustíveis e o
salário-mínimo. “A gente queria entender por que pagar tão caro?”, questionou.
Ele encerrou a participação lamentando a disparidade entre os preços dos
combustíveis praticados em Conquista com os dos municípios da região.