Imagem Audiência discute tratamento e direitos dos portadores da fibromialgia em Conquista

Audiência discute tratamento e direitos dos portadores da fibromialgia em Conquista

Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaNotíciaMárcia Viviane Nildma Ribeiro

18/05/2020 19:20:00


A fibromialgia, síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura, além de outros sintomas, foi tema de uma audiência pública realizada virtualmente na tarde desta segunda-feira (18), pela Câmara Municipal de Vitória da Conquista. O encontro, proposto pelo mandato da vereadora Viviane Sampaio (PT), trouxe para o debate a importância da conscientização das pessoas sobre o problema, que há alguns anos não recebia a devida atenção pela dificuldade em se chegar a um diagnosticado. A audiência contou com a participação de especialistas, pessoas portadoras da doença e representantes da sociedade.

Dia da Conscientização da Fibromialgia – Abrindo os trabalhos, a vereadora Viviane Sampaio (PT) ressaltou o quanto os portadores de fibromialgia passam por desafios e dificuldades no município de Vitória da Conquista. A parlamentar relatou que conseguiu aprovar a Lei nº 2310, de 02 de agosto de 2019, que reserva o dia 12 de maio como o dia de conscientização dessa patologia, fruto da iniciativa do grupo de portadores na cidade, e qualificou a ação como uma vitória muito grande para o grupo. Finalizando, a vereadora afirmou que é um momento de conscientização para a população sobre a doença e seus portadores.

Grupo Fibromialgia de Conquista - Representando o grupo de Fibromialgia de Vitória da Conquista, Maria Margarida relatou um pouco as dificuldades encontradas pelas pessoas portadoras da doença. “Fui diagnosticada com a doença há quatro anos e sofri muito até conseguir o tratamento correto”, contou, lembrando que “essa é uma patologia horrível que acomete principalmente as mulheres”. Margarida relatou que o processo de formalização do grupo se deu no início de 2019, através de Projeto de Lei que garantem direitos às pessoas portadoras de fibromialgia: “Pedimos prioridade em filas e já estamos com outros pedidos, a exemplo de uma equipe multidisciplinar para dar andamento ao tratamento, a luta é grande, mas vamos continuar”, disse. 

Demanda por acompanhamento multidisciplinar - Paciente diagnosticada com fibromialgia após uma peregrinação por vários especialistas que deram diversos diagnósticos, Poliana Policarpo disse ter se sentido aliviada por ter recebido o diagnóstico da doença. “Senti naquele momento um grande alívio”, disse ela, apontando que, com o diagnóstico, pôde buscar o tratamento ideal. Policarpo apontou que a grande demanda das pessoas com fibromialgia é a oferta de assistência multidisciplinar pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Nós precisamos de uma assistência médica multidisciplinar, que é o que nós não temos”, disse ela. “O meu apelo como paciente é que o SUS tenha um olhar diferenciado para nós e que possa criar esse núcleo multidisciplinar para atender a todos nós. São inúmeros sintomas que causam muitos transtornos”, disse Poliana.

Uma doença muito complexa – O reumatologista Dr. Kayson Dias ressaltou o quanto a doença é difícil para o paciente e também para o médico. Ele definiu a fibromialgia como uma síndrome de dor crônica em todo o corpo, cujos sintomas são fadiga, sono não-reparador, insônia e outros quadros como alteração de humor, depressão. “É muito complexa”, afirmou. Por fim, Dr. Kayson salientou o quanto um paciente com fibromialgia sente muito mais dor que as demais pessoas e muitas vezes sem haver qualquer estímulo.

Secretaria Municipal de Saúde - Representando a Saúde do Município, Dra. Milena Magalhães, neurologista do CEMAE, explicou que o diagnóstico da fibromialgia é muito complexo, pois o problema muitas vezes atinge o sono das pessoas e o tratamento vai depender da causa. Ela lembrou que o acesso a alguns exames importantes como, por exemplo, a polissonografia, é muito difícil. Lembrou da importância do tratamento multidisciplinar. “O diagnóstico é muito complexo, precisamos excluir todos os problemas neurológicos e então encaminhar o paciente ao médico especialista apto em realizar o tratamento que é o reumatologista”, explicou.  

Causa não identificada - O fisioterapeuta Leonardo Xavier apontou que a doença atinge atualmente 7 milhões de pessoas somente no Brasil e ainda não tem causa identificada. “Essa patologia não tem uma causa confirmada ainda”, apontou ele. De acordo com Xavier, é de suma importância que seja disponibilizado no SUS o tratamento multidisciplinar. “Eu peço aos poderes públicos que tenham um olhar diferenciado para essas mulheres”, disse. “O estudos já mostram a importância da equipe multidisciplinar, o acompanhamento psiquiátrico e psicológico é muito importante”, finalizou ele.

Depressão como consequência da fibromialgia – A psicóloga Karine Gusmão falou como profissional e também como portadora da fibromialgia e salientou que a dor crônica causada pela doença se estende em 18 pontos do corpo humano. Em sua fala, ela pontuou que além das dores, a depressão também pode ser uma consequência da doença que acomete um público formado em 90% por mulheres. A psicóloga relatou que muitas pacientes suas obtiveram melhora através da psicoterapia e afirmou que cada portador deveria ser assistido por diversos profissionais de saúde para terem um cuidado mais completo.

Conselho de Saúde da OAB - Joana Rocha, representante do Conselho de Saúde da OAB de Vitória da Conquista, explicou que o papel do órgão é aproximar a saúde às pessoas e zelar e respeitar a Constituição. “A gente tem hoje uma grande dificuldade porque os direitos desses pacientes ainda não estão regulamentados, ainda temos o desafio de mostrar que os pacientes portadores dessa patologia precisam ser reconhecidos pelos gestores públicos”, contou. Joana disse que “em uma pesquisa rápida no site da Câmara dos Deputados, encontrou 47 itens ligados a fibromialgia, diversas preposições como redução de impostos em compra de medicamentos e veículos, redução de jornada de trabalho e tantos outros, muitas iniciativas em andamento, mas ainda nada de concreto. Finalizou propondo uma audiência sobre os direitos das pessoas portadoras de fibromialgia.

Conselho Municipal de Saúde atento - A representante do Conselho Municipal de Saúde, Lúcia Dórea, infirmou que o Conselho está atento e preocupado com a situação das pessoas acometidas pela fibromialgia. “O CMS tem uma preocupação muito grande. Esse trabalhadores têm um duplo prejuízo, físico e moral, além do prejuízo financeiro”, analisou ela. “Nas empresas, a gente tem uma dificuldade porque os médicos do trabalho afastam, estão nas empresas, acompanham o dia a dia dos trabalhadores. No INSS, muitos (médicos) não concedem o benefício ao qual o trabalhador tem direito. Quando consegue, ele tem uma diminuição no seu rendimento”, apontou ela, relatando as dificuldades dos trabalhadores acometidos pela doença. Ela apontou também que outra dificuldade é o fato de alguns médicos sequer reconhecerem a fibromialgia como uma doença. “Segundo alguns profissionais de saúde, a fibromialgia é uma doença autoimune, só que isso não está registrado. Outros profissionais não consideram, muitos até não reconhecem a doença”, apontou Dórea. 

Dor no corpo e também na alma – Também representando o Conselho Municipal de Saúde, a Dra. Maria de Lourdes parabenizou as vereadoras Viviane Sampaio (PT) e Nildma Ribeiro (PCdoB) pela iniciativa e disse que mais uma vez tem a convicção de que o controle social é que vai fazer uma melhoria no país. Dra. Lourdes pediu que toda a classe médica lute cada vez mais pelo fortalecimento do SUS. A médica, que falou como profissional e como portadora, qualificou a patologia como uma dor no corpo e na alma.

“Eu não tinha saída” - Também acometida pela doença, Gicélia Felício contou que, sem condições de entender o que sentia e a origem daquelas dores, chegou a desistir de viver, e acabou tendo de lidar com a dificuldade de ser rotulada como suicida. “Quando chegou ao ápice eu desisti de viver e eu tentei suicídio. Além de enfrentar a fibromialgia, eu tinha que enfrentar o rótulo de que eu era uma suicida”, contou. “Eu não tinha saída, não tinha profissionais para dizer: ‘olha, você tem isso, vamos tratar assim’”, desabafou.

Ela disse que só soube que era portadora de fibromialgia quando procurou um reumatologista, após ser atendida por vários profissionais. “Depois de passar por profissionais de todas as áreas eu cheguei ao reumatologista que me acolheu, compreendeu a situação que eu estava vivenciando, me direcionou a uma equipe multidisciplinar”, contou Felício. “Lamento muito que essa situação não esteja aberta para todos. Infelizmente nosso SUS ainda é muito pobre em relação às políticas direcionadas para a saúde”, lamentou.

Fazer valer as Leis – A vereadora Nildma Ribeiro (PCdoB) lembrou que o tema é muito importante e que poucas pessoas não dão a atenção devida. “Muitas pessoas dizem que é frescura, mas não é. É a realidade, um problema de saúde pública”, lamentou. Ela lembrou que as mulheres são as mais atingidas e por isso pediu união para “juntas, buscar melhorias, fazer valer as leis sancionadas, faremos parte dessa luta e das diversas pautas levantadas por vocês que sofrem dessa doença”, disse. Destacou que muitas são as pautas a serem conquistadas como o passe livre, auxilio doença, criação da associação. “Queremos fazer com que a sociedade enxergue cada uma de vocês”, afirmou, acrescentando a garantia de remédios pelo SUS e acompanhamento multidisciplinar. Finalizou com um texto em homenagem às portadoras de fibromialgia.




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