Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaNotíciaNildma Ribeiro
26/09/2019 22:02:00
Foi realizada na noite desta quinta-feira, 26, na Câmara Municipal de Vitória da Conquista, uma audiência Pública para discutir o Setembro Amarelo, mês de combate ao suicídio. A audiência foi proposta pela vereadora Nildma Ribeiro (PCdoB) e contou com a participação da sociedade conquistense.
A autora abriu a sessão agradecendo a presença de todos e lembrando da importância de as pessoas estarem atentas ao comportamento das outras e aos sinais que podem identificar quando alguém está precisando de ajuda. “Existem pessoas próximas a nós que precisam ser ouvidas e precisamos estar atentos a qualquer indício de que a pessoa pode vir a cometer suicídio. Às vezes, ela só precisa ser ouvida”, concluiu.
A enfermeira Pati Luz, representando a Uesb, lembrou o papel do vereador e a importância de debater temáticas que tratam das necessidades da população. Ela disse que seu papel é promover ações de saúde e bem estar dos funcionários da instituição. “Todos os anos convocamos pessoas para essa causa e muitas já estão com a gente há muito tempo”, disse, agradecendo o apoio de todos os presentes.
Thaise Andrade relatou que a cada grupo de 30 pessoas, cinco já pensaram em suicídio. Falou sobre a mobilização para que se possa construir planos e projetos contra o suicídio. “Entre todas as mortes violentas, o suicídio é a quarta maior”, contou, e apresentou dados sobre o número de pessoas que se suicidam todos os anos: “62 mil pessoas morreram de suicídio, no Brasil, sendo que 79% eram homens. As mulheres tentam, porém os homens conseguem mais efetividade”. Apresentou dados do Caps em Conquista e esclareceu que não houve aumento, “apenas não estavam registrados”. Alertou para o número alto de jovens que se suicidam e contou que o enforcamento é a forma mais utilizada.
O Major Oliva Júnior disse que os policiais militares também podem se tornar vítimas desse mal. “Quando vinha para cá, recebi a infeliz notícia de um colega de Minas Gerais que ceifou a sua vida”, contou. Lembrou da importância de amigo, colegas e familiares estarem sempre atentos a sinais de depressão em pessoas próximas: “Autoestima baixa e depressão são sinais que podem servir de alerta. O suicídio é um problema que todos nós podemos ajudar a acabar”, disse. O Major relatou o trabalho da polícia no combate ao suicídio e como a polícia pode ajudar nessa situação.
Lívia Moraes, médica do SAMU 192, relatou que os homens são mais eficientes na tentativa de tirar a própria vida e que a principal técnica utilizada pelo homem é o enforcamento e a arma de fogo; entre as mulheres, o uso de medicamentos e entorpecentes. Ela relatou como é o processo de resgate a essas pessoas em situação de risco de suicídio e como o SAMU recebe ligações para esses atendimentos. “Recebemos algumas chamadas feitas por pessoas que viram situações suspeitas pela rua e também por aquelas pessoas que no ato de praticar o suicídio nos ligam para pedir socorro”. Lembrou que o serviço 192 é gratuito e que tem uma equipe preparada para ajudar quem precisa.
Flavia de Melo, da Comissão de Direito da Saúde e Direito Médico da OAB, esclareceu que o suicídio não é uma questão simples. “Suicídio ou tentativa não é crime, mas instigar é sim, crime”. Falou da atividade trabalhista, abordando a pressão para bater metas que não existem, provocação por superiores ou colegas, e disse que isso pode resultar em quadro de depressão, ocasionar o suicídio e cabe processo trabalhista. Na questão previdenciária, ela explicou que se a depressão impossibilita a pessoa de trabalhar, ela ficará afastada e acompanhada pelo INSS. Falou sobre o papel da família e o processo de interditar a pessoa que está com problemas e gerir a vida social dessa pessoa para auxiliar nesse processo. Finalizou alertando sobre o bullying. “A prática do bullying pode ser criminalizada se comprovado que levou outra pessoa à depressão ou ate o suicídio”. E pediu mais responsabilidade dos jovens em relação a esse assunto.
Pacífico Ferraz, servidor público, iniciou sua fala recitando a música “Deixe a vida me levar”, de Zeca Pagodinho. Ele contou a história do cantor que já declarou ter pensado em tirar a própria vida, mas desistiu ao encontrar um amigo que parou para ouvi-lo. “Dessa forma, mais uma vida foi salva por ter a oportunidade de se ouvir”. Citou outros relatos inclusive de autores que defendem que o suicídio pode ser evitado, dentre eles, André Trigueiro: “Ele aborda o suicídio de jovens que têm aumentado no mundo todo, pois são jovens entre 15 a 29 anos de idade onde se encontra o maior índice de suicídio”, informou, orientando: “Ofereça-se para ajudar, ouça mais”. Ao final, relatou alguns fatores que podem contribuir para o aumento do número de pessoas que se suicidam: “Perdas recentes de pessoas ou animais, fim de relacionamento, separação dos pais, uso de substâncias químicas, conflito sexual, violência doméstica, entre outros”.
A psicóloga Cleiriany Oliveira relatou que “ampliar a discussão além do setembro amarelo é importante, pois através da fala alcançamos mais pessoas e evitamos mais tragédias”. Ela questionou o que leva a pessoa a tirar a própria vida, e disse que não existe uma única causa, um fator que serve de gatilho para que a pessoa venha a se matar. “A pessoa já passa por problemas e um acontecimento faz com que ela chegue a esse ato”. Lembrou que a depressão pode levar ao suicídio, mas não quer dizer que quem tem depressão irá se suicidar. Relatou mitos relacionados ao suicídio e lembrou que falar de suicídio não incentiva, pelo contrário, ajuda a esclarecer e levar pessoas a pedirem ajuda.
Marislande Dias, cabo do Corpo de Bombeiros e terapeuta da Polícia Militar, explicou como é seu trabalho na corporação e o cuidado com cada oficial. “O mundo tá cheio de dificuldades mesmo, que nos desafiam o tempo todo e não devemos recuar”, falou. Ela pediu que as pessoas reflitam e saibam quem cada um é. “Saiba quem você é”, sugeriu, e disse que tenta mostrar aos militares algumas práticas interessantes, como a meditação. “Serviço militar não é fácil e temos que fazer algo. É como o jovem que tem que estudar, ajudar a mãe a arrumar a casa, briga com o namorado. Para, respira, desacelera, faz uma atividade física, uma meditação e volta”, aconselhou. E finalizou falando da importância de perdoar, de não guardar mágoa, de ajudar e ser ajudado. “Saia com a certeza de quem você é, não considere as coisas passadas, liberte-se das coisas e viva a vida, seja feliz”, concluiu.
Absolon Pereira, policial reformado, relatou seu trabalho em Salvador e o que vem fazendo no bairro Santa Cruz, em Vitória da Conquista. Propôs que fosse criado o primeiro observatório da saúde mental em Conquista, e a criação de 85 conselhos democráticos da segurança pública. “Conquista só tem um e não comporta toda a cidade”, lamentou. Sugeriu a patrulha da ronda escolar e outros projetos para combater o suicídio e o uso de drogas. Relatou o caso do seu filho que tentou se matar e acabou sendo executado pelo crime com 8 tiros.
Crésio Maciel, ativista do abraço, iniciou sua fala relatando que a cada 20 segundos, uma pessoa se mata no mundo e que a cada 6 segundos há uma tentativa de suicídio no mundo. “Vocês abraçaram seus entes queridos hoje?”, questionou, completando: “Se não abraçaram, fiquem atentos, podemos retornar em nossos lares e não termos mais algum deles vivo, conosco”. Contou como funciona o projeto do abraço nas ruas e afirmou que um ato simples pode mudar a vida das pessoas. “Lá encontramos pessoas dolorosas, de perda, de desespero, tristeza, melancolia, loucura”. Contou relatos de como o abraço tem ajudado as pessoas. Encerrou pedindo que as pessoas se abracem mais.