Na sessão ordinária dessa quarta, 7, o presidente da Câmara de Vereadores, Hermínio Oliveira (PPS) parabenizou Vitória da Conquista pelo aniversário de emancipação. O parlamentar leu trecho de um texto utilizado na inauguração do Memorial Câmara, inspirado em Luiz Fernandes de Oliveira, primeiro presidente da Câmara de Vereadores.
“Como homem viajante no tempo que sou, trago na bagagem cada evento memorável desta belíssima cidade.
Lembro-me como se fosse hoje daquele 9 de novembro de 1840. Dia bonito, ensolarado. Ainda posso sentir aquela brisa suave indo e voltando trazendo à minha memória aquele momento solene quando nosso distrito foi elevado à Imperial Vila da Vitória e instalamos a Câmara Municipal.
Eu, Luiz Fernandes de Oliveira, tive a honra de ser o primeiro presidente da Câmara. Naquele dia, juntamente com meus colegas empenhamos um voto sagrado:
‘Juro aos Santos Evangelhos desempenhar as obrigações de Vereador desta Imperial Vila da Vitória, de promover o quanto em mim couber os meios de sustentar a felicidade pública’.
Como homem viajante no tempo que sou, trago na bagagem cada evento memorável desta belíssima cidade.
Lembro-me como se fosse hoje daquele 9 de novembro de 1840. Dia bonito, ensolarado. Ainda posso sentir aquela brisa suave indo e voltando, trazendo à minha memória aquele momento solene quando nosso distrito foi elevado à Imperial Vila da Vitória e instalamos a Câmara Municipal.
Eu, Luiz Fernandes de Oliveira, tive a honra de ser o primeiro presidente da Câmara. Naquele dia, juntamente com meus colegas empenhamos um voto sagrado:
“Juro aos Santos Evangelhos desempenhar as obrigações de Vereador desta Imperial Vila da Vitória, de promover o quanto em mim couber os meios de sustentar a felicidade pública”.
Nascia ali a autonomia política de Conquista.
Salto no tempo e chego até o dia de hoje, 19 de dezembro de 2016, são 176 anos de Câmara. Vamos conversar um pouco? Pois nesse tempo todo, vi e ouvi muita coisa.
Se a memória não me falha, não vivemos só momentos solenes e de glória. Fecho os olhos e viajo a 1918: diante de mim o artigo de Maneca Grosso que incendeia Conquista acusando o juiz Antônio de Araújo de querer transformar a cidade numa nova Canudos. Viajo mais um pouco, 1919. O clima entre os grupos políticos Meletes e Peduros é tenso e acirrado. A morte do coronel Gugé, um dos grandes líderes de seu tempo, abalou a política local. Sem muito esforço posso ouvir o Almirante Araújo aos gritos com o jornalista Newton Lima: “A questão será resolvida à bala”.
A partir daí foram tiros para todos os lados. O centro de nossa cidade virou uma verdadeira praça de guerra. Os Peduros atiravam daqui de onde estamos, do prédio Maneca Santos; do sobrado da redação de “A Palavra”, respondiam com mais tiros os Meletes. Resultado: mortes, ferimentos à bala e a expulsão do juiz que supostamente queria transformar Conquista numa Canudos.
O fim do conflito veio com o seguinte acordo: “Nós, abaixo assignado temos firmado, a bem da paz e tranquilidade de Conquista, evitar toda espécie de vinganças contra qualquer cidadão, ficando sujeito a penas da lei e sem o amparo de nenhum de nós todo aquele que transgredir esta cláusula”. O acordo foi assinado pelos principais líderes dos dois grupos, lavrado em cartório perante a testemunha do Tabelião de Notas, Joaquim Martins Bastos, sob o selo e carimbo do tabelião.
Meus amigos, avancemos no tempo! É 1930 e Getúlio Vargas toma de assalto o poder. Em Conquista, os revolucionários conquistenses depõem o intendente Otávio Santos. Em 1937, um golpe nas câmaras do Brasil fecham suas portas por longos anos. Era Getúlio Vargas e o Estado Novo em vigor no País.
em 1945, no Brasil, com o fim da 2ª Guerra Mundial, os militares, que apoiaram o golpe de 1937, encerram a ditadura do Estado Novo e depõem Getúlio Vargas. E aqui em Conquista? De 1945 a 1946, várias autoridades se alternam no governo municipal. Foram nomeados para administrar o município figuras como o juiz Eduardo Martins Daltro de Castro, o promotor Salvador Fernandes de Oliveira Santos, Antonino Pedreira de Oliveira e Izalto Ferraz de Araújo.
Mas, dali pra frente... vivemos um período de quase 20 anos de liberdade política e pluripartidarismo. Ahhhh, a democracia, que beleza. Por essa Casa passaram grandes homens, políticos de envergadura. Gente que pensava à frente de sua época. Mais que isso, cidadãos realmente comprometidos com a democracia.
Infelizmente os mesmos ventos que trouxeram a democracia não tardaram a levá-la. Em 1964, com o país mergulhado num clima de inquietude a nossa democracia perece diante de um Golpe Militar.
É com muita tristeza que lembro o dia 6 de maio de 1964, quando essa Casa, totalmente submetida ao regime da Ditadura, cassou o mandato do prefeito Pedral Sampaio. Dias depois, já em 12 de maio, foi encontrado no quarto sanitário do quartel da Polícia Militar o corpo do vereador Péricles Gusmão. Segundo relatos de outros presos, Péricles foi imobilizado, pisoteado e teve seus pulsos cortados. Figura importantíssima na luta pela reconstitucionalização anos antes, tornou-se vítima fatal da Ditadura Militar que perdurou por longos vinte anos de repressão e perseguição política que resultou em inúmeras mortes e desaparecimentos.
Mas não desistimos da democracia, e com muita luta fizemos frente à Ditadura Militar. E depois de longos anos conquistamos a redemocratização. 1984, Tancredo Neves é eleito presidente do Brasil por um colégio eleitoral. Infelizmente nosso presidente morre antes da posse. Tancredo, meu amigos, seria o primeiro presidente civil em mais de 20 anos. Em seu lugar, assume José Sarney.
Viva a assembleia constituinte! Em 1988, depois de muito debate, fizemos a nossa Constituição Cidadã, que lançou as bases de nossa democracia, trazendo de volta a esperança ao povo brasileiro, ao povo conquistense.
Os tempos são outros. Desde aquele 1988 muita coisa aconteceu, a cidade cresceu, se desenvolveu, criamos novas leis, códigos e planos que melhor traduziam os novos tempos e os anseios da população.
Entretanto, não podemos esquecer o passado, os acertos e, sobretudo as falhas, os momentos em que vacilamos. E essa Câmara tem orgulho de hoje olhar para trás e saber reconhecer onde hesitou, onde inovou, onde foi pioneira.
Meu coração se inundou de alegria. Agosto de 2013: numa audiência pública esta Câmara devolveu, simbolicamente, a José Pedral Sampaio o mandato de prefeito que a Ditadura lhe usurpou. Neste mesmo dia, instituímos o 6 de maio como o “Dia da Memória” em Vitória da Conquista.
E hoje estou ainda mais feliz. Em reconhecimento ao passado e à importância de nossa memória para construção de uma sociedade mais justa e igualitária testemunhamos o nascimento do Memorial Câmara. Viajei pelo tempo para estar aqui, hoje, com vocês, nesta data solene e nobre.
Ao longo dos anos essa Casa vêm coroando a evolução político-social e cultural de nossa cidade e mais uma vez não fugiu aos seus princípios. Que os novos edis renovem o voto proferido naquele 9 de novembro de 1840 e se emprenhem a cada dia em lutar pela felicidade pública.