16/03/2017 22:08:19
A Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) realizou nessa quinta, 16, sessão especial sobre a Campanha da Fraternidade 2017. A sessão é realizada cumprindo a lei nº 2.081/2016 que a tornou regimental. A campanha acontece no período da Quaresma (quarenta dias anteriores à Páscoa), é realizada Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e desempenha uma importante tarefa social, promovendo uma discussão entre Igreja e sociedade. Com o tema “Bioma Brasileiro e Defesa da Vida” e o lema “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2.15). Durante a sessão aconteceram apresentação musical e exibição de vídeos sobre a campanha.
Segundo seus organizadores a Campanha da Fraternidade é marcada pelo empenho de todos em favor da solidariedade e fraternidade, sempre abordando temas atuais, que a cada ano propõe uma transformação social e comunitária, seja ela em desafios sociais, econômicos, culturais e até mesmo religiosos, onde toda a população envolvida na Campanha da Fraternidade é convidada a ver, julgar e agir.
[caption id="attachment_17328" align="alignright" width="300"] Dom Luís Gonzaga Pepeu[/caption]O arcebispo da Arquidiocese de Vitória da Conquista, Dom Luís Gonzaga Pepeu, iniciou o seu pronunciamento demonstrando a sua satisfação de estar na Câmara apresentando a Campanha da Fraternidade 2017. Ele parabenizou a Casa pela iniciativa de ter instituído em seu calendário anual a Sessão Especial da Campanha da Fraternidade.
De acordo com o Arcebispo, no Brasil a dimensão comunitária da Quaresma é vivenciada e assumida através da Campanha da Fraternidade. Ele lembrou que a cada ano a Igreja trabalha com uma temática ligada a algo que precisa ser mudado e em 2017 a instituição volta o seu olhar à preservação dos biomas brasileiros. “Ao cuidado da casa comum. É um tema ligado à vida”, apontou o líder religioso. “O objetivo geral da Campanha da Fraternidade é despertar em todos nós a preocupação de cuidar da criação, especialmente dos biomas brasileiros”, completou, destacando, que a preocupação com a natureza é recorrente nas edições da Campanha da Fraternidade.[caption id="attachment_17339" align="alignleft" width="300"] Hermínio Oliveira (PPS)[/caption]O presidente da Câmara, Hermínio Oliveira (PPS), apontou que a Igreja e suas autoridades tem se preocupado com a conservação ambiental há algum tempo. Ele lembrou de Dom Luiz Cappio, que fez greve de fome em alguns momentos, como manifestação contra a transposição do Rio São Francisco.
O presidente da Casa apontou que a natureza é uma criação de Deus que deve receber os cuidados da humanidade, que deve preservá-la em defesa de sua própria vida. Oliveira pediu ainda a seus colegas vereadores que na próxima sessão ordinária tratem da temática, a fim de promoverem a Campanha da Fraternidade e a conscientização da população quanto à necessidade de preservação ambiental.
[caption id="attachment_17329" align="alignright" width="300"] Irmã Eci Maria dos Santos[/caption]A representante da Pastoral da Terra, Irmã Eci Maria dos Santos, destacou o trabalho do grupo em alertar a população dos locais onde atua sobre o cuidado com a terra e sobretudo com as nascentes que estão secando, segundo ela. Irmã Eci advertiu para necessidade de ações para preservar a microbacia do Rio Pardo e todas as nascentes do serrado, o berço das águas. A representante denunciou que localidades têm sofrido com a exploração ilegal de minério por pessoas que vêm de Minas Gerais, situação que precisa ser estancada. Em sua fala, Eci parabenizou o ex-vereador Ademir Abreu pelo “trabalho belíssimo” de catalogação das nascentes de Vitória da Conquista.
[caption id="attachment_17332" align="alignleft" width="300"] Regina Dantas[/caption]A representante do Instituto Mata de Cipó, Regina Dantas, apontou que a Igreja caminha na direção certa ao se preocupar com a preservação ambiental. “A Igreja está no caminho certo e nós precisamos estar com ela”, disse ela. Regina Dantas defendeu a ideia de que o capitalismo alimenta a fome de poder, que leva o homem a envenenar a natureza com os agrotóxicos e a esquecer tragédias como a de Mariana. “Matou pobres, matou ribeirinhos”, lamentou.
A representante do Mata de Cipó destacou ainda que existe a necessidade de uma “revolução cultura, uma revolução de hábitos”. “Temos que reinventar outra forma de fazer economia, outra forma de vida”, defendeu ela destacando ser a Terra a casa comum de todos.[caption id="attachment_17334" align="alignright" width="300"] Ademir Abreu[/caption]O ex-vereador Ademir Abreu advertiu que o crescimento sem preocupação com o meio ambiente tem degradado as nascentes e rios. Ele lembrou que há seis anos uma técnica da Embasa, em evento na Câmara, informou que entre 1990 e 2010, somente na Bahia, 28 rios desapareceram. Na região, segundo ele, rios importantes como o Pardo e o de Contas tiveram seus cursos de água alterados no passado. Já o Rio São Francisco, que atravessa cinco estados tem seu fluxo reduzido a cada dia com reflexos drásticos na represa Sobradinho.
O ex-parlamentar ressaltou que Conquista é vítima desse contexto de degradação ambiental: vive uma das maiores secas dos últimos anos; queda da umidade do ar, com diminuição da neblina que era registrada na maior parte do ano; e racionamento de água. Em sua fala, Abreu frisou ainda que a adutora instalada no Catolé, instalada recentemente para atender Conquista, está diminuindo o volume do rio, o que já é sentido por outras cidades. Para ele, mesmo a barragem que será construída para resolver a crise hídrica que passa Conquista pode não corresponder às expectativas caso não sejam recuperadas as matas ciliares e as nascentes que alimentam o rio.
[caption id="attachment_17330" align="alignleft" width="300"] Jozimar Basoni[/caption]Representante da Articulação do Semi Árido (ASA), Jozimar Basoni, explicou que a ASA é um fórum de entidades que buscam manter famílias na zona rural com qualidade de vida. “A ASA nasceu não pra combater a seca, mas para conviver com a seca, porque a seca é um fenômeno da natureza”, disse ele.
A ASA, de acordo com Basoni, tem atuado construindo cisternas e reservatórios de água para famílias que vivem no semiárido baiano, inclusive em escolas. Outro projeto é o banco de sementes criolas (sementes mantidas e selecionadas por várias décadas através dos agricultores tradicionais). Ele apontou ainda que a ASA estimulando e capacitando as famílias a viverem em harmonia com a natureza através da agroecologia.