05/04/2016 19:12:16
Uma audiência pública, realizada pela Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC), nessa terça-feira (5), discutiu o Dia Nacional do Sistema Braille. A ação é de autoria dos vereadores Gilzete Moreira (PSD), Cícero Custódio (PSL) e Professor Cori (PT). Participaram da audiência: o presidente da Associação Conquistense de Integração do Deficiente (ACIDE); os professores da ACIDE, Fernando Pereira Couto e Alana Sheila Silva Santos; a coordenadora do Núcleo de Ações Inclusivas para Pessoas com Deficiência (NAIPD), Rozilda Almeida, que representou ainda a Secretaria Municipal de Educação; a professora do Colégio Estadual Abdias de Menezes, Maria Antonieta Tigre Almeida; e os vereadores Gilzete Moreira e Cícero Custódio.
O Dia Nacional do Sistema Braille é comemorado anualmente em 8 de abril. Foi criado em homenagem ao nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego do Brasil. José nasceu cego e, aos 10 anos de idade, foi enviado a Paris para estudar no Instituto Real dos Jovens Cegos. Lá aprendeu a recém-criada técnica de Braille. Ao voltar ao país, ensinou e espalhou o novo sistema de educação para deficientes visuais.
Devido a sua importante contribuição para a melhoria no aprendizado do braille José recebeu o título de “Patrono da Educação para Cegos no Brasil”. O Dia Nacional do Sistema Braille existe no Brasil desde 2010.
[caption id="attachment_10906" align="alignright" width="300"] Joselito Sousa[/caption]Braille abre portas – O presidente da ACIDE, Joselito Sousa, apontou o braille como responsável pela abertura das portas do letramento para as pessoas com deficiência visual. “O aluno comum, quando vai pra rede regular de ensino ele começa com o alfabeto e o alfabeto abre as portas do letramento pra esses estudantes. Pra nós, não é aquela cartilha tradicional, cheia de desenhos, é o sistema braille. O braille acaba abrindo as portas do letramento para a pessoa que tem a deficiência visual”, disse Joselito.
Ele parabenizou a Câmara Municipal por debater o sistema braille. “Parabenizamos esta Casa por estar lembrando desses momentos que tornam a vida da pessoa com deficiência visual mais confortável, nos traz qualidade de vida, que vem buscando nos garantir a dignidade que outrora foi negada à pessoa com deficiência”, concluiu.
[caption id="attachment_10907" align="alignleft" width="300"] Fernando Pereira Couto[/caption]Sistema é pouco reconhecido pelo poder público – Para o professor da ACIDE, Fernando Pereira Couto, o braille abre muitas portas para pessoas com deficiência. “Temos professores doutores, pessoas cegas que chegaram ao doutorado por conta do sistema braille. Então, é algo muito relevante, muito importante mesmo esse sistema”, disse o professor. Segundo Fernando, o sistema é uma forma de o deficiente ter contato direto com as palavras, pois permite a leitura por meio do tato. Ele explicou que o braille proporciona a mesma comodidade do livro, ou seja, a leitura pode ser feita em diversas circunstâncias.
O professor lamentou que o sistema braille seja pouco reconhecido, sobretudo pelo poder público. Segundo ele, para o Ministério da Educação Vitória da Conquista possui 40 salas de recursos multifuncionais, mas, na prática, apenas nove funcionam. Os equipamentos não funcionam por uma série de razoes, inclusive falta de profissionais, explicou Fernando. A questão se agrava com a entrada de deficientes em instituições educacionais sem a infraestrutura necessária. Ele lamentou que a lei garanta a entrada, mas o sistema não assegura a estrutura. “Será que realmente o braille está sendo levado a sério? Será que a educação especial está sendo levada a sério?”, questionou.
[caption id="attachment_10908" align="alignright" width="300"] Alana Sheila Silva[/caption]Audiência está de parabéns – A professora Alana Sheila Silva, que atua na ACIDE, disse ter ficado muito feliz quando foi convidada para a audiência pública para tratar do sistema braille. “O braille ainda é a única maneira que nós temos de tocar as palavras”, disse ela. Alana também leu o texto “Nunca se detenha” de Madre Teresa de Calcutá, que estimula as pessoas a respeitarem as deficiências de cada um e também a superar as deficiências.
[caption id="attachment_10909" align="alignleft" width="300"] Rozilda Almeida[/caption]Pátria educadora não é inclusiva – A coordenadora da NAIP, Rozilda Almeida, criticou o slogan “Pátria Educadora” utilizado pelo governo federal. “Essa pátria educadora só será construída quando todas as pessoas tiverem acesso à língua, à linguagem, enquanto meio de compreensão do mundo”, falou. Ela afirmou que o braille empodera a pessoa com cegueira, mas é muito difícil encontrar materiais em braille. Rozilda criticou a própria Câmara que não está adequada ao sistema. A educadora ressaltou que é necessário investir na infraestrutura e nos profissionais que atendem ao aluno com deficiência.
[caption id="attachment_10910" align="alignright" width="300"] Maria Antonieta Tigre[/caption]Escola pede socorro – A professora Maria Antonieta Tigre, que atua na Escola Estadual Abdias Menezes, única escola da cidade com salas de aula multifuncionais fez um pedido de socorro pela educação de pessoas com deficiência na Bahia. “Nos socorram. Nós já temos quase dois meses de aula e os alunos surdos ainda estão relegados ao nada. Nós não tivemos a autorização para a contratação dos intérpretes e os nossos alunos que necessitam de cuidadores ainda estão em casa aguardando a contratação desses profissionais. Esse é o ano mais gritante que nós estamos vivendo”, disse ela.
[caption id="attachment_10911" align="alignleft" width="300"] Vivaldo Santos Brito[/caption]Deficientes visuais testemunham superação – Vivaldo Santos Brito é deficiente visual e afirmou que o braille mudou sua vida. “Sem ele eu não seria o que eu sou hoje”, disse. Ele explicou que se comunica bem, escreve e cria estórias graças ao sistema e ao empenho dos professores.
[caption id="attachment_10915" align="alignright" width="300"] Iraildes Cunha[/caption]Eu amo o Braille - A estudante de Letras Vernáculas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB, Iraildes Cunha, destacou a importância do sistema braile em suas conquistas. “Passei no vestibular através das provas braille e tudo o que eu fiz foi braille. Eu amo o braille”, disse a estudante.