21/03/2014 11:50:00
A Câmara de Vereadores realizou na manhã desta sexta-feira (21), sessão especial para discutir a Campanha da Fraternidade 2014, que tem como tema Fraternidade e Tráfico Humano. Autor do requerimento da sessão prevista na Lei nº 1.909, o vereador Professor Cori (PT) propôs o debate do tema no âmbito do Legislativo.
Em 2014, a campanha tem como lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”. Desta forma, a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) tem o objetivo de debater o tráfico humano no Brasil, uma realidade constatada em uma pesquisa sobre Tráfico de Pessoas nas Áreas de Fronteira no Brasil, divulgada no ano passado pelo Governo Federal, onde o resultado apontou que as pessoas geralmente são traficadas para fins de exploração sexual e trabalho escravo, além de serviço doméstico.O presidente da Câmara de Vereadores, Fernando Vasconcelos (PT), destacou a importância da Campanha da Fraternidade e falou sobre o papel do Legislativo no apoio a assuntos relevantes para a sociedade. “Ao longo dos anos a Campanha da Fraternidade vem sendo discutida aqui na Câmara de Vereadores, e hoje não é mais um tema de um só vereador, e sim desta Casa como um todo. O Legislativo tem honra de poder contribuir para a busca de alternativas para acabar ou diminuir esse problema que está sendo tratado na campanha, o tráfico humano”.
Autor do projeto de Lei que institui a data para reflexão anual sobre os temas propostos pela Campanha da Fraternidade, o vereador Professor Cori (PT) ressaltou que é preciso transformar a luta sugerida pela CNBB em uma responsabilidade de todos. E destacou, dentro dos trabalhos evangelísticos desenvolvidos pela CNBB, a Campanha da Fraternidade, que a cada ano escolhe um tema e por meio da campanha, busca despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade, buscando possíveis soluções. “A sociedade precisa assumir com responsabilidade as lutas sugeridas a cada ano pela CNBB”, disse.
O parlamentar falou ainda o tema e o lema deste ano, que, segundo o Professor Cori, conduzem os “filhos de Deus ao itinerário de libertação pessoal, comunitário e social, buscando erradicar o mal do tráfico humano, resgatar a dignidade, identificar as práticas de tráfico e denunciá-lo. Disse também que a globalização com a competição econômica tem provocado migrações de pessoas em busca de melhores condições de trabalho e de vida, tornando-as vulneráveis perante a ação de tráfico humano.
“Precisamos minimizar o sofrimento destes irmãos que vivem em sofrimento em meio aos tempos atuais, pois assim celebraremos o verdadeiro sentido da páscoa em nossa vida, na vida dos nossos irmãos e na sociedade. Que este tema e lema façam parte da nossa prática – “É para liberdade que Cristo nos libertou”, concluiu o parlamentar.A vereadora Lúcia Rocha (DEM) elogiou a iniciativa da sessão especial que discutiu a Campanha da Fraternidade, e destacou a importância do tema. “Tem grande importância, pois é um momento oportuno em que a Igreja Católica desperta a sua comunidade para um problema muito sério. Esse tema tem como propósito identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-las como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristão e pessoas de boa vontade para erradicar esse mal”, disse, sugerindo que o Legislativo participe e inclua a discussão de fato em suas ações, com o objetivo de buscar meios de reinserção para pessoas vítimas do tráfico humano. Em sua fala a vereadora ainda lembrou o Dia Internacional da Síndrome de Down, e pediu que a data seja marcada por manifestações de respeito, garantias de direitos e oportunidade de inclusão social para pessoas portadoras da síndrome.
José Paulo de Souza, agente da Pastoral Carcerária e Afro da Paróquia São Miguel, destacou que a missão destas pastorais é conscientizar sobre a discriminação e preconceito existente na sociedade e trabalhar mediando a situação de dor do preso e a família, e segundo o agente pastoral, este trabalho tem surtido efeitos positivos. Ressaltou porém que os atos desta prática que o tema da campanha aborda são praticamente invisíveis, e chamou atenção para o tráfico psicológico, pois, segundo José Paulo, em muitos casos, quando as vítimas são submetidas a está ação de coerção a família já está nas mãos dos traficantes.
Representando a Vara da Infância e da Juventude, o diretor da Secretaria, Miron Dias do Santos, explicou o papel da Vara da Infância no combate ao tráfico humano e disse que os representantes têm feito tudo que é possível para que a vara seja aquilo que realmente é projetada para ser. Ainda segundo ele, nos processos em andamento na Vara da qual faz parte, não existem casos classificados como tráfico humano, o que indica que as pessoas não denunciam o crime. Miron Dias chamou atenção para importância da denúncia, e disse que a sociedade moderna necessita de uma profunda reflexão espiritual. “Sabemos que o grande anseio da humanidade é a liberdade, e isso só encontramos em Deus”.
Janaína Fonseca, Promotora de Justiça, afirmou que a abordagem que a Campanha da Fraternidade faz é importante para compreensão de quantas pessoas estão disfarçadas aliciando vítimas, sem nenhuma punição, e lembrou que quando o ato é feito impondo violência é mais fácil de identificar. A promotora citou a definição para tráfico previsto na legislação internacional como o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, ao rapto, fraude, engano, abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração.
“É uma gama de atitudes previstas como ações que colaboram para o tráfico humano e todas elas são puníveis”, disse e divulgou o - Disque 100, o número da Secretária de Direitos Humanos, que esta disponível para denúncia 24 horas. Janaína aproveitou a oportunidade para alertar os eleitores da necessidade de avaliar o comprometimento dos políticos neste ano eleitoral. “Está difícil fazer justiça no Brasil, sem aparato para fazer valer a justiça”, disse e chamou atenção dos eleitores para que os órgãos competentes estejam comprometidos em aparelhar a estrutura da justiça.Representando a Prefeitura de Vitória da Conquista, o procurador do município, Wagner Santos Alves Dias ressaltou que o tema da Campanha da Fraternidade é uma discussão relevante para a sociedade brasileira. “Essa campanha chama atenção para um tema que aflige a sociedade, e que às vezes não ocorre de uma forma violenta, e sim de uma forma disfarçada. O tema é atual, mas o problema é antigo”, disse, explicando que o tráfico humano ocorre de um lado pela vantagem econômica e do outro pelo desespero de pessoas com dificuldades financeiras. Ainda em sua fala lembrou que o tráfico humano ocorre em diversas formas, através do tráfico de pessoas, do tráfico de órgãos, da exploração sexual e do tráfico para trabalho escravo, e chamou atenção para a importância da denúncia.
Diácono Luciano Santana, relatou que desde a década de 60 a CNBB realiza a Campanha da Fraternidade propondo temas importantes para toda sociedade, não só restritas à comunidade católica. Os temas tem como pano de fundo a vida e a fraternidade. Para o diácono, o valor inalienável da vida e da dignidade humana não pode ser colocado à venda sob nenhuma hipótese, e refletiu sobre o texto base da CNBB que leva a sociedade a compreender que o tráfico humano atenta a dignidade do ser humano, salientando que a situação das vítimas está relacionada à vulnerabilidade social e econômica, por isso destaca a importância de pensar políticas públicas que modifiquem a realidade, fazendo com que está Campanha e Sessão especial tenham um efeito na sociedade. Informou que Vitória da Conquista está classificada como uma das principais cidades na rota do tráfico e que o papel da Igreja está em suscitar o debate e reafirmar os valores que não podem ser esquecidos - da vida, da dignidade e da importância da família.
Disse ainda que os traficantes não se identificam como tal, mas são aliciadores que se aproximam das pessoas como amigos e a vítima que é abordada com uma proposta irrecusável de trabalho acaba aprisionada, sem o direito à liberdade. “Precisamos dedicar maior atenção aos acontecimentos que ferem a dignidade de cada homem e mulher e nos unir para investir em alternativas e busca de soluções para este grave problema, e não ficarmos só acomodados, mas tomarmos uma atitude diante desta realidade, muitas vezes invisível, mas real em nossa sociedade”, afirmou.O Monsenhor Estevam dos Santos Silva Filho, representante do Arcebispo Dom Luís Gonzaga Pepeu, falou que as pessoas devem ajudar o próximo a ser livre, pois o tráfico humano é coisa séria, e não se pode ficar impassível ao assunto. “Não podemos ficar achando que não é conosco sabendo que tem gente passando por esse tipo de situação. A pessoa não humana não deveria ser vendida e comprada como mercadoria, quem a usa, mesmo que indiretamente, torna-se cúmplice”. Ainda em sua lembrou que o papa sugere que as pessoas façam um exame de consciência, e se solidarizem com aqueles que estão privados de sua liberdade. “Estamos aqui para que todos nós, junto com o Legislativo possamos nos comprometer na causa de crianças e adolescentes utilizados no tráfico humano. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou, e devemos estar a serviço da liberdade”.
Por Flávia Rezende e Camilla Aguiar / ASCOMCV