16/11/2009 12:00:00
Por uma iniciativa do mandato do vereador Beto Gonçalves (PV), a Câmara Municipal realizou, nesta sexta-feira (13), audiência pública para discutir a regulamentação da venda de acarajé em Vitória da Conquista. A audiência teve por base uma lei municipal da cidade de Salvador (Lei 12.175/98), que regulamenta a forma, os hábitos e procedimentos para a venda do produto. O acarajé é reconhecido como patrimônio cultural imaterial do povo brasileiro, especialmente da cultura negra.
Para o vereador Beto Gonçalves, a cultura negra ainda não é totalmente reconhecida. “Temos que buscar o direito de comercializar o acarajé como um produto da cultura e das religiões de matrizes africanas. Não se pode negar a origem do acarajé, nem seu significado para a cultura brasileira”, afirmou.
Afonso Silvestre, que representou a Secretaria Municipal de Governo, ressaltou que a questão da comercialização do acarajé em nossa cidade precisa ser melhor avaliada, pois há uma tentativa de descaracterizar a carga cultural do produto. “Segmentos cristãos estão se apropriando do comércio do acarajé, e para isso, tentam negar sua importância cultural. O acarajé não é apenas um alimento para ser vendido, é um legado cultural de nosso país”, disse.
Dona Dió, a mais tradicional baiana de acarajé de Conquista, em atividade há cerca de 50 anos, relatou sua tristeza com a descaracterização do acarajé. Para Dona Dió, vender acarajé é preservar a cultura negra vinda da África. “Gostaria de ver todas as baianas vestidas a caráter, para que nossa cultura seja preservada. Se não pode vestir nossas roupas, por quê vender nossa comida?”, questionou.
A Mameto de Inkissi, Mãe Val, fez um resgate histórico sobre a produção do acarajé pelos ex-escravos, logo após a abolição da escravatura em 1888. “Dizer que o acarajé é 'bolinho de Jesus', não vai desvirtuá-lo. Se querem se manter do acarajé, façam da forma correta, seguindo as regras e utilizando nossa indumentárias”, afirmou.
Rita Maria dos Santos, representante da Associação das Baianas de Acarajé da Bahia, afirmou sua indignação com a ausência do prefeito, do secretário Municipal de Cultura e do secretário de Serviços Públicos, que deveriam participar desta discussão. “Nosso objetivo é que sejam respeitadas as características culturais do tabuleiro do acarajé”, disse.
O deputado federal Luiz Alberto (PT-Ba), afirmou que a tentativa de descaracterizar a venda do acarajé é mais uma tática de perseguição à cultura negra. “Estão perseguindo o nosso acarajé, que é um objeto de resistência cultural do povo negro no Brasil”, afirmou, ressaltando ainda que está previsto na constituição a proteção ao patrimônio cultural brasileiro.