12/11/2009 22:10:00
A Câmara Municipal realizou, na noite desta quinta-feira (12), sessão solene em celebração ao Dia da Consciência Negra. A solenidade foi marcada pela presença de representantes de terreiros de candomblé em Vitória da Conquista e grupos de capoeira, que fizeram uma apresentação especial no hall do plenário Vereadora Carmem Lúcia.João Borges, que representou o Conselho das Associações Quilombolas de Conquista, cobrou a execução de projetos que prestem assistência às comunidades quilombolas e condenou toda e qualquer discriminação racial. Borges afirmou que o poder público não pode ser omisso diante do desrespeito aos direitos de descendentes quilombolas. “Tem gente que diz que em Vitória da Conquista não existem negros. Infelizmente isto é fruto de uma segregação racial”, disse.
Discriminação racial - Já o Pe. José Carlos Conceição, assessor da Pastoral Afro da diocese de Conquista, salientou que a celebração do Dia da Consciência Negra na Câmara é fruto da luta do movimento negro no município. O Pe. José Carlos lamentou episódios de discriminação na própria Câmara, em legislaturas passadas. “O negro, desde a chegada ao Brasil, enfrenta situações de discriminação”, declarou. O padre salientou a importância de Zumbi dos Palmares no processo do fim da escravidão no Brasil. “Viemos aqui celebrar a história do nosso rei Zumbi”, disse.
A professora doutora Graziela Novato, também lamentou episódios racistas presenciados na Câmara em legislaturas passadas. Ressaltou que a luta pela igualdade social não é recente, pois grupos negros há muito tempo discutem a importância do negro em Vitória da Conquista. “Os negros no Brasil sempre foram motivo de polêmica no Brasil”, declarou.
Novato lamentou o número reduzido de negros nas universidades brasileiras e a ausência de políticas públicas que recuperem aquilo que foi tirado dos negros durante séculos de escravidão. “Perdemos os nossos nomes e sobrenomes africanos, que precisam ser recuperados, como parte de nossa história”, disse.A Mameto de Inkissi Val Teixeira, que veio de Salvador para participar da sessão solene, afirmou que mais importante do que celebrar o Dia da Consciência Negra, é entender que os direitos dos negros devem ser observados durante todo o ano. Teixeira cobrou uma postura coerente dos vereadores em defender os direitos dos negros no âmbito municipal.
“Ter consciência negra não é fazer sessões especiais, mas respeitar o negro, oferecendo emprego, saúde, educação e moradia digna”, declarou. A Mameto de Inkissi também destacou o direito dos negros exercerem a religião candomblecista sem medo de sofrerem algum tipo de discriminação. Cultura yorubá – Presença ilustre na sessão solene, o nigeriano Olúségun Akínrúlí, professor de cultura e lingua yorubá, ressaltou a necessidade de reconhecer e respeitar a cultura dos negros, expressa através da dança e religião. Akínrúlí destacou que a cultura africana faz parte da formação do povo brasileiro.
As influências yorubá e bantu no Brasil foram destaque no discurso do professor, que, falando especialmente aos negros, ressaltou a importância do resgate da história dos negros no Brasil. A preservação histórica do povo negro, segundo Akínrúlí, tem no candomblé sua preservação e consolidação. “As informações sobre as origens do povo negro estão no candomblé. Precisamos conhecer nossas origens”, disse.O secretário Municipal de Governo, Edwaldo Alves, que representou o prefeito Guilherme Menezes, afirmou que o Dia da Consciência Negra é a data mais importante rememorada no Brasil, pois celebra o assassinato de Zumbi dos Palmares, mártir da libertação dos negros brasileiros.
Alves fez um resgate histórico do movimento negro no Brasil e defendeu a igualdade social e racial no país. “Me envergonho porque o Brasil foi o último país a se livrar da escravidão. É preciso fazer uma reforma agrária justa, que venha reparar erros históricos cometidos contra os negros”, afirmou.Último a discursar na sessão, o deputado federal Luiz Alberto (PT) parabenizou a Câmara pela realização de uma sessão solene em celebração à consciência negra. O parlamentar ressaltou a importância do Estatuto da Igualdade Racial e da luta contra a discriminação racial. “O fim da escravidão no Brasil não correspondeu àquilo que Zumbi sonhou para o povo negro”, destacou.
“Não somos nem 5% dos universitários do Brasil”, lamentou, sugerindo que o Poder Legislativo conquistense aprove leis que assegurem direitos e conquistas dos negros no âmbito municipal. Alberto condenou a perseguição religiosa contra os adeptos ao candomblé. “Isto é um crime e precisa ser combatido”, disse.