Nesta quinta-feira (13), os jornalistas Guilherme Barbosa, Fábio Sena e Andréa Póvoas receberam os professores Arlete Ramos dos Santos e Alberto Bomfim. Em pauta, o analfabetismo no Brasil que, de acordo com o último Censo do IBGE (2022), alcança 11,4 milhões de pessoas, o que corresponde a 7% da população com 15 anos ou mais. Além disso, o analfabetismo funcional, que é a condição de quem consegue ler e escrever, mas não consegue compreender o sentido do que lê ou se expressar por escrito, afeta cerca de um terço dos brasileiros.

Apesar dos números ainda serem altos, já foi muito pior. Em 2010, a taxa de analfabetismo era de 9,6% e, mais atrás, em 1940, quando se iniciou o Censo, esse número era de 56%. Para o professor Alberto Bomfim, apesar dos progressos ao longo das décadas, os passos que são dados rumo à erradicação do analfabetismo ainda são muito pequenos. O problema, além de ser estrutural, passa ainda por duas questões:

“Os agentes públicos não estão conseguindo fazer com que os processos educacionais cheguem às populações mais distantes, como as ribeirinhas, quilombolas, indígenas e rurais. Vemos no Brasil de maneira geral, mas em Conquista, o fechamento de escolas nucleadas, quilombolas, o que é um prejuízo para essas comunidades. Mas uma outra questão ainda pouco discutida é que temos modelos educacionais universalistas, que pretendem chegar em grupos de massas e, com isso, se performa uma educação com padrões que quase nunca serão os necessários para essas comunidades com demandas educacionais diferentes e você não consegue desenvolver competências quando essas habilidades estão postas em comunidades que não necessitam delas necessariamente ou que precisam tê-las com uma abordagem diferente”., argumentou.

A coordenadora de divulgação do Censo na Bahia, Mariana Viveiros, apresentou dados relativos a Bahia e, especificamente, Vitória da Conquista: “Em 2022, 1 em cada 10 pessoas analfabetas do país estava na Bahia. Aqui no estado havia cerca de 1 milhão e 400 mil pessoas analfabetas, uma taxa de analfabetismo de 12,6%, que era a nona maior entre os estados. Em Vitória da Conquista, a gente teve uma redução importante do número de analfabetos, mas ainda havia 26.900 pessoas de 15 anos ou mais de idade que não sabiam ler nem escrever, uma taxa de 9,1%. Como Conquista é um município populoso, esse número absoluto de analfabetos é o terceiro maior da Bahia, 26.900, mas a taxa 9,1% é uma das mais baixas no Estado, a 26ª mais baixa de um total de 417 municípios”, destacou a coordenadora.

Sobre o desempenho de Vitória da Conquista, a professora Arlete Ramos apontou a problemática do atraso do ano de escolaridade no tempo certo, que existe na Rede Municipal de Ensino: “Vitória da Conquista tem uma distorção idade-série dos anos finais do Ensino Fundamental de mais de 50% dos alunos da Rede Municipal, tanto por evasão como por repetência. A alguns, a rede não proporciona transporte escolar da forma que deve e daí os meninos perdem o estímulo de ir para a escola”, afirmou a professora, enfatizando o fechamento das escolas: “Isso reflete nos números do analfabetismo colocados pelo IBGE nas áreas rurais, e os problemas do ponto de vista estrutural não se resolvem fechando escolas, tirando das pessoas o direito de estudarem em suas comunidades de origem, conforme preconiza a legislação brasileira, e ficar nas suas escolas, numa perspectiva de transformar a educação em mercadoria”.  

Cursinho Popular

Também no Fala Conquista, os apresentadores receberam a professora Elisabete Ferreira Lopes, coordenadora administrativa e fundadora do Cursinho Pré-Vestibular Dandara dos Palmares, que tem 36 anos de existência e abrange o público quilombola, negros e não negros de baixa renda. Ela se uniu ao professor Alberto Bomfim para anunciar a abertura das inscrições para o ano letivo que terá início em março.

O estudante paga uma mensalidade simbólica de R$ 70,00 para arcar com custos do cursinho e recebe aulas presenciais que preparam para o vestibular, Enem e concursos. “As inscrições podem ser feitas pessoalmente no Colégio Cláudio Manoel da Costa, que fica ao lado do Tiro de Guerra, na Avenida João Pessoa, das 19h às 21h, ou pelas nossas Redes Sociais, Instagram @prevest.dandaradospalmares ou ainda pelo What’sApp (77) 98829-8304. Venham, pois vocês serão muito bem recebidos. A educação é a única maneira de nos libertar”, concluiu Elisabete.

Arlete Ramos dos Santos, professora do Departamento de Ciências Humanas, Educação e Linguagem e do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), professora do Programa de Pós-graduação em Educação Mestrado Profissional em Educação Básica (PPGE) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Pós-doutorada em Educação e Movimentos sociais pela UNESP, Doutorado e Mestrado em Educação pela FAE/UFMG.

Alberto Bonfim da Silva é doutor em Memória pelo PPGMLS/UESB - Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade/Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Possui graduação e especialização em História e mestrado em Letras. Atualmente é professor efetivo da Secretaria Municipal de Educação de Vitória da Conquista e do Curso Pré-Vestibular Dandara dos Palmares.

Por Andréa Póvoas