Câmara Municipal de Vitória da ConquistaVereadoresSessão EspecialNotícia
09/03/2022 11:40:00
Foi realizada na manhã desta quarta-feira, 09,
no Plenário da Câmara Municipal de Vitória da Conquista, uma Sessão Especial solene
para entrega do Diploma Loreta Valadares, previsto na Resolução nº 41, de 30 de
agosto de 2005, que agracia seis mulheres com ações voltadas para o direito e
proteção de mulheres em situação de violência. Também foram entregues
certificados a mulheres que atuam e prestam contribuição em outras áreas, e que foram indicadas pelos vereadores para
serem homenageadas pelo Dia da Mulher.
As homenageadas com o Diploma Loreta Valadares foram:
Lusdenes Batista Silva, Lays Souza Macedo, Cristina
Donato Rocon, EuLá Jardim, Talamira
Taita Rodrigues Brito e Keila Fabiane Souto Dompsin.
Keila Dompsi foi uma das homenageadas com o Diploma
Loreta Valadares. Ela é mãe da cirurgiã-dentista Ana Luiza Dompsi, vítima de
feminicídio em março de 2021. “Eu ainda não sei o que é o luto, pois continuo
vivendo a luta”, declarou. Ela destacou a necessidade de união entre mulheres
para que possam avançar com pautas que insistem em tirar a dignidade de todas
elas. “E por que essa realidade ainda nos atormenta? Porque não entendemos
ainda que somos, de fato, fortes, independente do sistema, dos governos e até
mesmo do homem que está do nosso lado. Infelizmente, seguimos com cada um
buscando o seu próprio interesse”, afirmou.
Sobre o homicídio da filha, ela lamentou a
partida precoce de Ana Luiza e destacou que responde a vários processos movidos
pelo assassino, um deles pedindo a prisão dela. “Estou sendo proibida de citar
o nome do assassino e, em caso de descumprimento, pago R$ 22 mil de multa. Por
determinação judicial, fiquei proibida de ter acesso à cidade de Cândido Sales,
onde meu pai mora, só para não aproximar do assassino de minha filha. Eu estou
sofrendo abusos, mas eu vou me calar? Não! Vou continuar buscando por justiça”,
afirmou Keila.
Ela encerrou o pronunciamento falando da
expectativa no desfecho desse processo. “Qualquer que seja a pena que esse
oficial da PM receba, ninguém vai fazer ideia da lacuna que a morte da minha
filha deixou em mim”, afirmou, relembrando um diálogo que teve com um advogado.
“O advogado me disse que são dois defuntos: um deitado e outro em pé. Mas quero
dizer que minha filha não é um defunto deitado, pois ela agora vive em mim”,
pontuou.
A delegada Lusdenes Batista Silva agradeceu
ao Legislativo conquistense pelo reconhecimento ao seu trabalho com o Diploma
Loreta Valadares. “Muito obrigada pela homenagem. Enquanto delegada, eu tive
muito contato com as mulheres e tentei dar o meu melhor ao exercer o cargo”,
disse. Ela ressaltou ainda as dificuldades de se exercer a profissão na
polícia. “A gente, como mulher, sofre muita discriminação, mas com firmeza e
profissionalismo tenho conseguido exercer a profissão de delegada por todos esses
anos”.
A jornalista e perita da Polícia Civil, Lays
Souza Macedo, afirmou que em sua atuação como policial busca ofertar o
acolhimento adequado a mulheres vítimas de violência, apesar da falta de
estrutura da própria polícia para que isso aconteça. Ela denunciou assédio
sexual sofrido no próprio ambiente de trabalho, praticado por um colega. Mesmo
tendo denunciado, Lays afirmou que não obteve apoio do coordenador e vem
enfrentando uma instituição machista, que é a Polícia Civil. A perita explicou
que tomou medidas criminais e administrativas e pediu remoção para outra
cidade, mas ainda não conseguiu. Lays frisou que se sente ainda mais
fortalecida para a luta em defesa das mulheres, para superar a própria dor e
acolher outras mulheres.
Cristina Donato Rocon
administrou, durante dois anos, de forma anônima, a página Isis Nina, no Instagram,
criando um movimento pacífico em defesa da
mulher, encorajando-as a denunciarem seus agressores, bem como, encorajando
mães a denunciarem os abusos sofridos por suas filhas menores de idade.
Ativista, ela lamentou a página ter sido retirada do ar pela justiça e garantiu
que a luta pela causa feminista vai continuar.
A professora Talamira Rodrigues agradeceu pela
homenagem e disse se sentir representante de todas as mulheres. “Eu me sinto
uma síntese da herança de todas as mulheres que estão aqui”. Ela disse também
acreditar na construção de uma sociedade mais plural. “Temos estruturalmente
construído um machismo, mas temos também uma consciência de que é preciso
construir uma sociedade democrática”, finalizou Talamira.
Ao
receber a homenagem, a cantora e compositora Eulá Jardim relatou um
episódio constrangedor que enfrentou no Dia Internacional da Mulher. “Entrei
numa loja com minha filha e fui questionada sobre o meu corte de cabelo e sobre
a minha bengala. O proprietário fez vários comentários infelizes e é triste
saber que essas experiências se repetem o ano inteiro e o tempo inteiro”,
lamentou. Ela pontuou também o desafio da mulher para obter reconhecimento com
o seu trabalho, citando exemplos que enfrenta enquanto artista. “Receber essa
homenagem não significa que tenha alcançado todas as minhas expectativas. Talvez
essa homenagem seja uma forma de dizer: sinto muito por sua dor”, afirmou. Eulá
encerrou o pronunciamento dedicando essa homenagem a outras mulheres.
“Referencio hoje meus ancestrais, minha filha, minha avó e dedico essa
homenagem à minha mãe”, pontuou.
Após a entrega do Diploma Mulher Cidadã Loreta Valadares, foram entregues certificados a mulheres homenageadas pelo Dia da Mulher, comemorado na última terça-feira, 08 de março.