Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaNotíciaOrlando FilhoRicardo Babão
22/02/2022 18:15:00
Foi realizada na tarde desta terça-feira, 22, na Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC), uma audiência pública para debater a saúde pediátrica no município. A audiência foi proposta pelo vereador Orlando Filho (PRTB). “Esta é uma oportunidade de debatermos a situação da saúde pediátrica em nosso município, desde atendimentos, consultas, e até UTI”, justificou. Ele lembrou ainda do projeto do Centro Multiprofissional para crianças com transtornos.
A audiência contou com profissionais de saúde, mães e pais e uma criança. A criança afirmou que é inadmissível uma cidade de 340 mil habitantes possuir apenas cinco leitos públicos de UTI pediátrica e pediu urgência na implantação de hospital infantil.
Dificuldades em marcar exames – Sinthia Tenório, mãe de uma criança autista, relatou as dificuldades para acessar tratamentos multidisciplinares para crianças dentro do espectro e lembrou que essas “terapias trazem melhores condições de vida para essas crianças”. Ela relatou ainda dificuldade em marcar exames e consultas para quem possui comorbidades, “muitas vezes passamos de seis meses a um ano esperando um exame”.
As famílias estão pedindo socorro – Representando os pais e mães de autistas, Neres Valda Matos tratou sobre a adequação de espaços escolares para atender as crianças com esse transtorno. “Não temos inclusões dentro das escolas. A saúde para crianças autistas é precária, não temos quase nada. Precisamos nos mobilizar para reverter essa situação”, afirmou. Outro assunto que ela destacou foi o adoecimento dos pais de autistas nesse processo de tratamento dos filhos. Neres Valda falou da sua experiência como mãe e avó de autistas, ressaltando o desequilíbrio entre o stress e os recursos necessários para o tratamento dos seus familiares. “As famílias estão pedindo socorro. A gente precisa de uma estrutura que não temos no Caps IA”, pontuou.
Autistas necessitam de atendimento multidisciplinar – Edivaldo Santana, psicólogo e gerente do CREAS POP, afirmou que Conquista sofre com a carência de profissionais de saúde capacitados para atender pessoas autistas. Ele ressaltou que a demanda, que já era grande, aumentou bastante com a pandemia. Santana ainda defendeu um atendimento amplo, que também ampare a família e leve em consideração a saúde mental dos pais. O psicólogo frisou que muitas famílias não têm condições de ofertar um acompanhamento multidisciplinar, condição fundamental para garantir o desenvolvimento e a qualidade de vida da pessoa autista.
Vontade política e social - O diretor do Hospital São Vicente de Paula, Paulo Gadas, falou sobre as dificuldades e complexidades da saúde especializada, principalmente voltada para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), em Vitória da Conquista. Além disso, também criticou a falta de profissionais especializados, dado a falta de conhecimento sobre o transtorno. “A falta de conhecimento leva à falta de profissionais”, afirmou. Segundo o diretor, é necessário ter vontade política e social para que o município tenha um hospital especializado, porque muitos autistas não têm recursos financeiros para fazer o acompanhamento médico. Gadas ainda parabenizou o vereador Orlando Filho (PRTB) pela audiência e falou sobre a necessidade de minimizar o sofrimento dos autistas e seus familiares.
Perdeu a filha por falta de UTI – Deivid Paul perdeu sua filha de apenas três anos por falta de um leito de UTI e relatou um pouco de seu sofrimento em busca de ajuda para tentar salvar sua filha. Ele contou que recebeu um ótimo atendimento na Santa Casa, mas que o início foi difícil. “Só foi feito um raio X porque minha esposa e minha mãe insistiram e aí foi detectada a pneumonia. Daí em diante, minha filha não saiu mais do hospital e veio a falecer por não ter uma UTI pediátrica disponível”, falou. Ele clamou para que novos leitos sejam instalados na cidade: “precisamos de um hospital pediátrico o mais rápido possível. Hoje eu perdi minha filha, mas amanhã pode ser qualquer um de vocês”, finalizou.
Desde 2019, com o encerramento das atividades do Centro de Atenção Médica Infantil (Cami), o município sofre com a falta de um centro de saúde em referência pediátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, atualmente só tem um leito pediátrico de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no Hospital Geral de Vitória da Conquista (HGVC).
Implantar hospital infantil é urgente – A médica Juscilene Leão, cirurgiã pediátrica, relatou as dificuldades para implantar UTIs pediátricas em Conquista, por volta de 2004. Ela afirmou que a experiência exitosa no Hospital Esaú Matos transformou o município em referência nacional na área. Leão avalia que Conquista necessita de mais leitos de UTI e de um hospital infantil que ofereça atendimento adequado às crianças. Ela explicou que a primeira maior causa de morte de crianças no Brasil é trauma e em segundo lugar figuram as doenças respiratórias. Segundo Juscilene, estas enfermidades e a Covid-19 somadas já representam a maior causa de mortes de crianças no Brasil.
Melhorias para a saúde mental - A gerente do CAPS IA, Giulia Limonge, e representante da secretária municipal de saúde, Ramona Cerqueira, reforçou a necessidade de melhorias e investimentos na saúde mental no município. Ela ainda cobrou leitos pediátricos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) voltados para a saúde mental. Ao finalizar, falou sobre os atendimentos ofertados pelo CAPS, como terapia ocupacional, psicólogo, enfermeiros, dentre outros profissionais. Ainda, lembrou que o CAPS é aberto para toda a população.
“Muito se fala, mas pouco se resolve” – José Augusto Leal, pai de autista de 50 anos de idade, relatou todo o processo de descoberta do autismo em seu filho, as dificuldades encontradas no decorrer desses 50 anos. “Atualmente todo mundo fala de autismo, mas antigamente pouco ou nada se sabia sobre o problema”, disse e finalizou lembrando que “muito se fala, mas pouco se resolve. Conquista tem condição de tratar qualquer doença neurológica, basta unir forças”.
Investimento em saúde é decisão política – O vereador Ricardo Babão (PCdoB) lamentou a ausência de vereadores na audiência. Ele ressaltou que existem colegas que fazem críticas à Câmara, mas não participam de debates como este. O parlamentar se solidarizou com Deivid Paul que perdeu a filha por falta de vaga em leito de UTI.
Babão defendeu que avanços na saúde dependem de decisão política e explicou que o vereador, além de legislar e fiscalizar o Executivo, pode também trabalhar para trazer ações e projetos para o município. Em sua fala, o vereador defendeu que a atividade política deve acontecer para o bem das pessoas.