Câmara Municipal de Vitória da ConquistaVereadoresSessão EspecialNotíciaComissão de Cultura e Esporte
16/03/2021 09:17:00
Na próxima quarta-feira, 17, a Câmara Municipal de Vitória da Conquista promove Sessão Especial para a entrega da Medalha Mérito Cultural Glauber Rocha, em comemoração ao Dia Municipal da Cultura, celebrado no último dia 14.
A Medalha Glauber Rocha, instituída pela Lei 1.367/2006, é uma honraria concedida pelo legislativo conquistense, em parceria com o Conselho Municipal de Cultura, a uma personalidade e uma entidade que tenham contribuído para o desenvolvimento, difusão e valorização da cultura no município de Vitória da Conquista.
O Dia Municipal da Cultura foi instituído em 14 de março, data de nascimento do cineasta conquistense Glauber Rocha (1939-1981), um dos mais importantes integrantes do movimento conhecido como “Cinema Novo”, na década de 60. Entre suas principais obras estão os filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”.
A sessão será na quarta-feira, às 9h, por meio do Sistema de Deliberação Remota (SDR). A população poderá acompanhar pelo Facebook, Youtube, site da Câmara, Rádio Web e Rádio Brasil FM.
Conheça os dois homenageados deste ano:
TERREIRO DE CANDOMBLÉ LOJERECI NAÇÃO IJESÁ
Criado em 1988, o Terreiro de Candomblé Lojereci Nação Ijesá tem representado um acolhimento para a população do seu entorno, tanto do ponto de vista material quanto espiritual.
Abarca valores que o qualificam como patrimônio de memória e de cultura local. Entre eles, o fato de ser o primeiro candomblé Ketu, tributário dos povos sudaneses da África, instalado na Cidade de Vitória da Conquista, e também o primeiro a trazer o culto de Ifá, devoção à Orunmilá-Ifá, também originário da África Ocidental.
Além de ser também matriz de outros candomblés da cidade, representa uma expressão religiosa para parte da comunidade local e representa também a ancestralidade negra presente na região desde o século XVIII. Possui um conjunto arquitetônico característico, demarcando o uso do espaço a partir da dinâmica dos ritos da cultura iorubana e da materialização dos sentidos do sagrado na natureza.
Sendo assim, a partir do respeito à memória da ascendência escrava em Vitória da Conquista, o terreiro preserva os ícones desta memória, proporcionando uma ligação direta dos seus frequentadores com sua ancestralidade.
Este esforço para oferecer elementos para o autorreconhecimento da população periférica é de extrema importância para a manutenção da autoestima de pessoas normalmente vivendo em condições de grande fragilidade pessoal e social.
(extraído do dossiê para tombamento, produzido pela profa. Antonieta Miguel)
GILVANDRO OLIVEIRA, ARTISTA DA ANCESTRALIDADE
Gilvandro nasceu no Ribeirão do Paneleiro, uma comunidade indígena com tradição de fazendeiras de panelas barro. O trabalho do seu povo foi bastante útil para que Conquista se tornasse uma referência regional em sua primeira fase histórica.
Gilvandro venceu essas adversidades com a convicção do seu dom para a observação sensível através do olhar dos seus ascendentes. Foi longo o caminho que o levou a ser hoje um escultor de grande qualidade e que apresenta um processo de evolução em seu trabalho, e também um historiador, formado pela UESB, focado na realidade e na preservação da memória do seu povo, matriz de uma identidade conquistense.
Acostumado ao culto à natureza, a leitura dos seus sinais e indícios, a orientação a partir deles, o aprendizado de um respeito fundamental e vital, na cidade ele aprendeu outras cartilhas para sobrevivência, uma delas foi a religiosidade cristã. Ao reproduzir em escultura, Gil Santos e outros personagens do cristianismo, esculpia inconscientemente as formas do seu rosto, que na verdade é o rosto do seu povo. O frade capuchinho, Frei Bernardo, seu mestre, pacientemente, tão bem intencionado quanto desavisado, mostrava as obras conhecidas, insistia que os corpos deveriam respeitar suas formas originais, explicava sobre etnias. O rapaz entendia, captava tudo, mas, apenas racionalmente.
Ao seu modo, o artista organizou essas informações. Das muitas arestas que sobravam, ele fez esculturas. Rostos que traziam as feições do seu povo, em suas expressões de dor, de angústia e todo sofrimento que cabe a um povo oprimido e violentado há dois séculos. Ele, enquanto parte do que sobrou de toda essa história, em um determinado momento, percebeu que estava sendo chamado para a obrigação de preservar a memória e os costumes da sua gente através não apenas da sua arte, mas das suas atitudes enquanto cidadão.
Ele fazia bustos de Sócrates, Platão... Mas sua raiz familiar sempre falou mais alto e ele se sente na obrigação de trazer a imagem desta memória da gênese de Conquista, dando assim visibilidade para sua gente, que foi fundamental na formação deste lugar enquanto ocupação branca. Sobre o choque cultural vivenciado, as diferenças de olhares para o próprio devir entre seu lugar e a cidade, ele afirma que foi protegido pela sua ancestralidade e é esta proteção que me faz entender enquanto artista.