Câmara Municipal de Vitória da ConquistaAudiência PúblicaComissão Especial de Enfrentamento à Covid-19
27/04/2020 19:20:00
Durante a tarde desta segunda-feira,
27, a Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) realizou uma ampla
audiência pública para discutir com representantes da CDL, Uesb, Ufba, hospitais,
Governo do Estado e Prefeitura ações de combate à Covid-19, bem como amenizar
as consequências negativas da pandemia.
A audiência pública foi realizada
através de videoconferência e transmitidas nas redes sociais da Casa do Povo, a
fim de evitar aglomerações e, mesmo assim, assegurar a participação da
população no debate.
Espaço importante para o debate das
ações pela sociedade civil - Presidente da Comissão de Saúde da OAB/Subseção
Conquista, Joana Rocha destacou a importância da audiência como espaço
importante para o debate da sociedade civil no sentido de unir e buscar
alternativas para ajudar o executivo no enfrentamento à pandemia do novo
coronavírus. Ela disse que a OAB participa da Comissão Intersetorial de Saúde
do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT), e tem diligenciado as informações
publicadas na imprensa para entender as
razões e dificuldades do município nesse momento de crise da saúde pública, e que
vem pensando estratégias para contribuir por meio de campanhas educativas. “Temos
um convênio de apoio jurídico ao Conselho Municipal de Saúde para que a entidade
possa participar das decisões da gestão municipal ligadas à saúde, e nos
colocamos à disposição para mediar conflitos, propor soluções e participar
naquilo que for possível, estamos aqui de forma propositiva para auxiliar e
interceder em favor do sistema de saúde pública do nosso município”, afirmou.
Instabilidade na Secretaria de Saúde atrapalha – O
representante do Conselho Municipal de Saúde e da Comissão de Saúde do
Trabalhador e professor da Universidade Federal da Bahia, Luís Rogério, apontou
que há a necessidade de um direcionamento nas ações de combate ao coronavírus e
suas consequências. “Nesse cenário nós entendemos que é preciso ter um
direcionamento. O município vive a mesma instabilidade que o Governo Federal no
âmbito do Ministério da Saúde com a troca de quadros”, disse ele apontando as
saídas de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde e de Alexsandro Costa da
Secretaria Municipal de Saúde. “Isso vai deixando uma sensação de uma
descontinuidade das ações”, disse o professor cobrando maior estabilidade na
gestão da Saúde no âmbito municipal e federal.
Hospital está vazio – O gestor do Hospital Unimec, Alcides
José de Santana, ressaltou que a unidade está preparada para enfrentar esse
cenário. De acordo com ele, o Unimec possui 11 leitos e mais três espaços para
isolamento, com toda a estrutura para atender pacientes. Santana afirmou estar
preocupado porque o hospital está vazio, sem pacientes seja com a covid-19 ou
outras doenças. Ele alertou para o fato as pessoas continuam a ter outras
enfermidades, mas não estariam procurando os hospitais. Para ele, a discussão
de forma coletiva sobre estratégias para enfrentar esse cenário é um caminho
acertado.
Reabertura do comércio em horário e
condições especiais - Hélio Marques, representante da CDL, disse que
o comércio é o setor mais penalizado com a pandemia do novo coronavírus. Segundo
ele, a maioria dos leitos nas unidades hospitalares, a exemplo do Hospital
Regional e da Santa Casa, estão desocupados, prova de que a situação em Vitória
da Conquista está sob controle, e reconhece que o prefeito acertou com o decreto
do uso de máscaras por toda a população, porém diz que não entende o motivo de
o gestor se dizer preocupado em reabrir o comércio por conta de uma possível aglomeração,
enquanto filas gigantescas são formadas nos bancos e casas lotéricas,
principalmente na Caixa Econômica, além de supermercados e feiras livres lotados,
enquanto o comércio se mantém fechado desde o dia 21 de março.
“A prefeitura não está levando em
conta todas as famílias que o comércio sustenta, a maioria dos microempresários
tem capital de giro para no máximo 15 dias, já estamos com as lojas fechadas há
mais de 40 dias, não temos como suportar”, disse, sugerindo a reabertura do setor
comercial de terça a quinta-feira desta semana, em horário e condições
especiais (das 9h às 15h ou das 10h às 16), com todas as medidas de segurança, para verificar o impacto.
“Sugiro um teste para vermos o que acontece, já sabemos que a nossa economia em
2020 será negativa, mas a ideia é minimizar os prejuízos, apreciar a abertura
do comércio de maneira gradual para observar os resultados”.
Reflexão para garantir tomada de decisões acertadas - A
representante da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Gleide
Pinheiro, ressaltou que, apesar de a crise afetar também o setor comercial da
cidade, é preciso que as decisões no tocante à possibilidade de reabertura do
comércio sejam tomadas baseadas em muita reflexão. “A reabertura do comércio é
uma responsabilidade muito grande. A gente tem que pensar com muita calma”,
apontou ela, que ressaltou ainda a necessidade de estabelecer estratégias que garantam
a saúde financeira do setor comercial.
Para ela, é preciso observar o exemplo de outros países. “Os
exemplos que a gente viu em outros lugares do mundo mostram que a pandemia
cresceu de forma acelerada porque não houve esse cuidado das autoridades
políticas de estarem fechado determinados setores”, apontou Pinheiro, que
alertou também que o fechamento do comércio precisa estar relacionado a ações
de conscientização da população. “A gente está vendo que o comércio está
fechado, existe um decreto e mesmo assim as pessoas não estão se cuidando.
Mesmo com máscara não estão respeitando a distância necessária”, lamentou.
Batalha contra a Covid-19 deve ser coletiva – Márcio
Galvão, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Campus Anísio
Teixeira, afirmou que está à disposição do município para contribuir nas ações
de combate à pandemia. Galvão ressaltou que as decisões devem ser tomadas a
partir de critérios científicos. Ele alertou para a taxa de letalidade no
Brasil, que se aproxima dos 7%. De acordo com o professor, trata-se de um dado
subestimado, já que o Brasil não tem feito testagem em massa. Galvão defendeu
ações coletivas entre estados, municípios e o Governo Federal, mas frisou que
os primeiros é que têm feito o trabalho de forma corajosa. O professor
ressaltou a importância de se tomar decisões coletivas, com a participação do
Estado, nos diferentes níveis, e a sociedade.
Órgão de representação formal para implementação da Política de
Saúde - Representando o Conselho Municipal de Saúde (CMS), Suzana
Ribeiro destacou o trabalho da entidade que vem desde o início da pandemia se preocupando
com a chegada do vírus a Vitória da Conquista. De acordo com ela, o Conselho
fez diversas abordagens à Secretaria de Saúde sobre a implantação do Comitê
Municipal de Enfrentamento à Covid-19, mas encontrou como resposta o silêncio
da gestão municipal, que optou por criar um Centro de Operações de Emergência sem
a participação do órgão. “O CMS é um órgão estabelecido por força de lei
municipal, estadual ou federal, para avaliação e fiscalização da implementação
da Política de Saúde, inclusive nos seus aspectos econômicos e financeiros”, disse
e acrescentou que os conselheiros ficaram em situação incômoda, vendo e
acompanhando, de fora, os riscos e os problemas causados pela pandemia. “Fizemos
manifestação formal, por meio de nota
pública, porque o Conselho sempre foi parceiro do município, porém não houve
reciprocidade, só conseguimos uma reunião com o secretário no dia 3 de abril,
15 dias após o isolamento social”, esclareceu, cobrando o Plano de Enfrentamento
da Covid-19 e o Plano de Aplicação dos R$ 7 milhões repassados pela União e das
emendas parlamentares dos deputados. “Queremos o plano de ação e os dados
epidemiológicos para que a partir daí possamos tomar qualquer medida, como a
flexibilização do isolamento social, para isso precisamos ter mais substância
para apontar a direção a seguir”.
É preciso atenção - A diretora do Núcleo Regional de
Saúde do Sudoeste, Karoline Rebouças, ressaltou a necessidade de atenção para
que a cidade não vivencie um colapso em seu sistema de Saúde. “Já estamos tendo
grande ocupação dos leitos. Muitos pacientes da região estão sendo transferidos
para Vitória da Conquista para utilizar a UTI”, explicou ela, ponderando que a
cidade atende a toda a região.
Rebouças revelou ainda que a tendência é de que o número de
casos da Covid-19 aumente entre os meses de maio e junho. “Pelo nosso cenário
epidemiológico nós temos uma curva de crescimento. Tende a crescer agora, daqui
pra frente, nos meses de maio e junho. É importante a gente não pensar somente
na economia nesse momento”, disse ela ressaltando que é preciso avaliar se é conveniente
reabrir o comércio. “A gente precisa se atentar muito para que a gente não
venha ter uma desassistência, que é não ter locais para estar internando esses
pacientes que vieram a adoecer em massa”, finalizou Karoline.
Como ficará a economia municipal após a pandemia? Abimael
Alves Brito, provedor da Santa Casa de Misericórdia, cobrou à Prefeitura e à
Câmara medidas para ajudar a economia conquistense, especialmente após a pandemia.
O gestor ainda afirmou que o hospital está à disposição para integrar as ações
de combate à pandemia. O presidente da Casa, Luciano Gomes (PCdoB), afirmou que
a Câmara vem propondo ações de combate ao vírus e de apoio aos conquistenses,
sobretudo as famílias mais vulneráveis.
Foco da Prefeitura é preservar a saúde – O secretário
municipal de Administração, Kairan Rocha, apontou que as ações da Prefeitura
estão norteadas pelo objetivo de preservar a saúde da população. “Todas as
nossas ações precisam estar pautadas em dados da Saúde”, disse o secretário.
O representante da administração municipal assumiu que em
Vitória da Conquista há uma subnotificação e que a Prefeitura já está se
movimentando para mudar o quadro. “Nós temos uma subnotificação. Existe uma
baixa testagem”, apontou ele, apontando que para resolver isso, o Laboratório
Central Municipal está sendo qualificado para a realização de exames e a Prefeitura
comprou 7 mil testes rápidos, que devem chegar ainda nesta semana.
Sobre os pedidos de que a Prefeitura criasse um programa de
renda mínima emergencial, Kairan disse que a proposta é economicamente
inviável. “Hoje o município não tem possibilidade econômica de liberar uma
renda emergencial para famílias em situação de vulnerabilidade social”, disse
ele.
Trabalho contínuo – A secretária municipal de Saúde,
Ramona Cerqueira, disse que os serviços da pasta voltados para o combate ao
coronavírus estão atuando de forma contínua. “Nós temos uma equipe trabalhando o
tempo todo, inclusive finais de semana e feriado”, assegurou.
De acordo com ela, foram estabelecidas ações como um call
center para atender à população, tirando dúvidas a respeito da Covid-19, além
da instalação do Núcleo de Referência ao coronavírus, que vai atender pacientes
encaminhados pelas unidades básicas de saúde.
A respeito dos gastos envolvendo os R$ 7 milhões
em recursos federais para o combate à pandemia, Ramona explicou que ainda não
foram gastos, mas que contratos já estão sendo negociados para oferecer ainda
mais recursos para a população conquistense. “Os contratos estão sendo construídos.
Não houve ainda gastos com estes recursos”, disse ela, revelando que há uma
negociação em andamento com a Santa Casa para leitos de UTI, que será custeada
com os recursos federais.