Imagem Câmara de Vitória da Conquista lança exposição em homenagem à memória de Maneca Grosso

Câmara de Vitória da Conquista lança exposição em homenagem à memória de Maneca Grosso

Câmara Municipal de Vitória da ConquistaVereadoresNotíciaMemorial Câmara

04/04/2019 22:03:00


Na noite desta quinta-feira (04), a Câmara Municipal de Vitória da Conquista deu início aos trabalhos do Memorial Câmara com a exposição “Personagens Conquistenses”. O evento agrega valor à exposição permanente “Cenas Conquistenses – Câmara Municipal”. Nesse primeiro momento, a exposição retratará, durante 90 dias, a história do poeta, professor, jornalista e político Manoel Fernandes de Oliveira, popularmente conhecido como Maneca Grosso. 

Além de Maneca Grosso, a exposição lembra também outras figuras ilustre que fizeram parte da política conquistense e que contribuíram para o desenvolvimento político, econômico e cultural do município. A grande maioria delas participaram de disputas políticas ferrenhas, como a dos Meletes e Peduros, ocorrida no período da República Velha, quando a ordem era ditada pelo coronelismo.

Durante o lançamento da exposição, que contou com a presença de familiares de Maneca Grosso, autoridades políticas, professores e da sociedade conquistense, houve declamação de poemas, a exibição de um vídeo com depoimentos sobre a vida do homenageado, além de um momento cultural com o músico Jânio Arapiranga.  

O presidente da Casa, vereador Luciano Gomes (PR) destacou a importância a importância de reavivar a memória de Vitória da Conquista com os conquistenses. “Hoje alguém me disse assim: ‘olha, o conquistense, em sua grande maioria, não conhece a sua história’, e nós queremos que as crianças, os jovens, possam vir ao Memorial da Câmara e conhecer a história. Assim como todos aqueles que não conheciam e passam a conhecer a história de Maneca Grosso, vão se encantar com essa exposição que durará 90 dias aqui na Casa do Povo”.

A coordenadora do Memorial Câmara, Fabiana Prado, ressaltou que o Memorial tem o objetivo de promover a movimentação do conhecimento, trazendo à população de Vitória da Conquista a oportunidade de conhecer a sua história e se apaixonar por ela. “Este é um lugar de conhecimento, e o conhecimento só tem sentido se ele for trocado, se ele for transmitido, e esse é o objetivo do Memorial Câmara”, disse ela.

Quando criado o Memorial Câmara, o Legislativo Municipal tinha como presidente o vereador Fernando Jacaré (PT), que aponta o resgate da história da cidade como foco principal da criação da estrutura. “Naquele momento foi pensado para resgatar a história e está aqui hoje o Memorial. Precisamos resgatar a história da cidade. A história por si só fala”, disse o ex-presidente, destacando ainda o acerto em homenagear uma figura tão marcante quanto Maneca Grosso.

Em nome dos familiares do homenageado, o seu bisneto Fernando Odilon agradeceu ao presidente da Câmara, Luciano Gomes, por escolher esse momento para homenagear Maneca Grosso. “Quero também parabenizar a instituição por esse momento maravilhoso. Eu acho que ele [Maneca] está feliz com essa homenagem e por isso eu agradeço a todos”.

O procurador do município e ex-prefeito, Murilo Mármore, comentou: “Esse momento será marcado durante muitos e muitos anos; daqui a não muito tempo nestas paredes estarão registradas as fotos, com certeza, do que estamos aqui presenciando. Estamos sendo testemunhas de um momento histórico na vida política e cultural da nossa cidade. Quero dizer aos senhores que independente da posição político-partidária, a história vai se criando durante o tempo, pelos prefeitos e pelos vereadores, por todos que compõem o poder público, como também pelos particulares, todos aqueles que impulsionam a vida da cidade”.

O historiador Belarmino de Jesus destacou a tradição conquistense de buscar manter os registros de sua história. “Em nossa cidade nós temos uma tradição de buscar o registro do nosso passado, preservando aquilo que muitas vezes é transmitido apenas pela tradição oral”, disse ele. Em seguida fez um apanhado histórico do período em que Maneca Grosso contribuiu com a rica história da Imperial Vila da Vitória, que mais tarde se tornou a Vitória da Conquista que conhecemos.

Belarmino apontou que um espaço de memória como o Memorial Câmara é motivo de orgulho. “Fico mais uma vez orgulhoso com a nossa cidade”, concluiu.

Maneca Grosso - Manoel Fernandes de Oliveira, mais conhecido como “Maneca Grosso”,  nasceu no dia 08 de maio de 1869, na então Imperial Vila da Vitória. Maneca Grosso pertencia à extensa família dos Gonçalves da Costa, era filho de Manoel Fernandes de Oliveira e Umbelina Maria de Oliveira, trineto de João Gonçalves da Costa (bandeirante que fundou o Arraial da Conquista) e neto de Luiz Fernandes de Oliveira (primeiro intendente e presidente da Câmara Municipal da Cidade de Coquista).

Após a morte de seu pai em 18 de fevereiro de 1876, sua mãe casou-se com Ernesto Dantas Barbosa, padrasto com quem teve excelente relação. Maneca Grosso não teve educação formal, mas, além de poeta, era professor, ensinava na escola que funcionava em sua fazenda “Baixa do Arroz” e ainda escrevia artigos para jornais (A Palavra, Diário de Notícias). Casou-se com Isidoria Ferraz de Oliveira com quem teve onze filhos: Mª Umbelina, Mª Gliceria, Mª Madalena, Mª Antoniela, Mª Ernestina, Mª Luiza, Laura, João, Joaquim, José e Cassiano.

Maneca Grosso também atuou na política conquistense, esta era marcada por inúmeras lutas políticas, as quais, na maioria das vezes envolvia membros da mesma família, situacionistas (Peduros) versus oposicionistas (Meletes). Os dois grupos tinham como seus porta-vozes os jornais “Conquistense” que representava os Meletes e “A Palavra” representante dos Peduros. Os Meletes não perdoaram as palavras de Maneca Grosso e no fatídico dia 05 de janeiro de 1919, quando o jornalista saia  da cidade rumo à fazenda “Baixa do Arroz”, sofreu uma emboscada juntamente com seu amigo Cirilo, este foi assassinado alí mesmo pelos pistoleiros e, Maneca Grosso, fortemente espancado, veio a óbito no dia 11 de fevereiro de 1919 em consequência dos ferimentos e grande dor moral que sofrera.

A Morte de Cirilo, o espancamento de Maneca Grosso bem como  as sucessivas publicações ofensivas entre os dois grupos culminou na Guerra entre Meletes e Peduros (1919). O fato é que, do dia 19 ao dia 21 de janeiro de 1919, a região central de Conquista virou uma verdadeira praça de Guerra, cuja luta armada completou um século nesse janeiro de 2019.

Um século também se passou da morte de Maneca Grosso, importante cidadão conquistense que deixou artigos e poesias publicadas e inéditas, assim como um livro de sua autoria. Nas palavras de Aníbal Viana (1985), Maneca Grosso foi um ilustre filho de Conquista que, autodidata, adquiriu sólida cultura tendo ensinado uma geração de jovens de sua época. Foi um jornalista brilhante e um primoroso poeta. Camilo de Jesus (1961) também homenageou o poeta: “...conquistense de velha têmpera, homem de lutas e de ideias – complexo singular de talento nativo e amalgamado à têmpera de bronze de uma lealdade sem peias e de uma coragem sem limites”. 

 



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